Título: UE planeja mais restrições à carne bovina brasileira
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2007, Agronegócios, p. B16

A União Européia (UE) se prepara para restringir a importação de carne bovina do Brasil, provavelmente limitando o número de companhias autorizadas a exportar o produto para seus 27 países-membros. A decisão pode sair ainda esta semana. A porta-voz do comissário de Saúde da UE, Markos Kyprianou, disse que "ele [Kyprianou] está considerando ações que precisam ser tomadas, com base nas conclusões da missão que esteve no Brasil em novembro" para avaliar o controle sanitário na produção de carne bovina no país.

Outra fonte da União Européia disse que autoridades brasileiras já foram informadas de que a decisão é para breve, e que desta vez um endurecimento é inevitável.

Segundo a Reuters, Kyprianou teria revelado ontem a deputados europeus que propôs aos outros comissários medidas duras contra a carne brasileira, com base nos resultados da missão veterinária que esteve no Brasil em novembro. Sua porta-voz não confirmou o relato. Ela disse que Kyprianou reuniu-se com os outros comissários ontem, mas que não houve decisão por parte da Comissão, até porque alguns deles tiveram de partir rápido para Estrasburgo, para se encontrar com deputados.

A UE, porém, não deve restringir toda a carne produzida no Brasil, como querem pecuaristas irlandeses e ingleses. Um sinal disso foi uma carta do presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, ao ombudsman da UE, rejeitando demandas dos irlandeses e ingleses, dizendo que não havia razões para proibir toda a carne brasileira. Associações de agricultores desses países recorreram ao ombudsman, acusando a UE de pôr em risco a saúde dos consumidores ao não interditar a carne brasileira. Desde outubro de 2005, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo estão proibidos de exportar à UE por conta dos casos de aftosa nos dois primeiros Estados.

Kyprianou está sob pressão dos produtores há meses, e enviou uma missão vista como decisiva em novembro. Os inspetores constataram que o controle sanitário brasileiro está longe do ideal. E que várias medidas não estão funcionando, pelo menos não como o governo brasileiro tinha prometido a Bruxelas. Uma das maiores queixas é em relação ao sistema de rastreabilidade do gado (Sisbov). Para os europeus, o Brasil não cumpriu o que prometera, colocando em risco uma parte do comércio superior a US$ 1 bilhão por ano.

Quem conhece a situação brasileira, sabe que a carne nacional não apresenta problemas para o consumo. Isso, porém, não é facilmente compreendido na UE. E há limites para o próprio comissário de Saúde, Kyprianou, continuar postergando um parecer.

Depois que a comissão tomar sua decisão, a medida será submetida aos 27 países-membros, divididos entre protecionistas como Irlanda e Inglaterra, e outros que querem continuar importando os mesmos volumes de carne do Brasil, como Itália e Alemanha.