Título: Fed sinaliza para novo corte de juros
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Fonte: Valor Econômico, 12/12/2007, Finanças, p. C1

O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, baixou os juros pela terceira vez nos últimas três reuniões para proteger a economia de um crescente aperto de crédito e deixou aberta a porta para mais cortes.

O Fed cortou em 0,25 ponto porcentual tanto sua meta para os juros de curto prazo, que é a taxa básica da economia americana, quanto a taxa de redesconto, cobrada em empréstimos diretos dele para bancos comerciais. Elas passam a ser de 4,25% e 4,75%, respectivamente.

As bolsas caíram imediatamente após a divulgação do corte, com a Média Industrial Dow Jones fechando a 13.432,77 pontos, em queda de 294,26 pontos, ou 2,14%.

A maioria dos economistas de Wall Street esperava um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, cobrada em empréstimos de curtíssimo prazo entre bancos, e de meio ponto na menos importante taxa de redesconto. Uma minoria significativa previa corte de meio ponto na taxa básica.

Mas o corte de ontem foi maior do que o Fed achava que teria de fazer quando se reuniu no fim de outubro, e o comunicado divulgado juntamente com a decisão ainda deixa espaço para mais cortes, embora sem que esteja implícito que o banco central realmente o fará.

"O crescimento econômico está desacelerando, refletindo a intensificação da correção imobiliária e algum desaquecimento da atividade empresarial e do consumo", disse o comunicado do Fed. "Além disso, as tensões nos mercados financeiros aumentaram nas últimas semanas."

Ao mesmo tempo, "continuam existindo alguns riscos de inflação" por causa do elevado preço do petróleo e outras commodities.

Diferentemente de outubro, quando o Fed afirmou que os riscos de crescimento menor e inflação em alta estavam praticamente equilibrados, o que implicava não haver predisposição para novo corte dos juros, o banco central decidiu ontem não avaliar o equilíbrio dos riscos. O comunicado diz que o Fed "vai continuar a acompanhar os efeitos de acontecimentos financeiros e outros nas previsões econômicas e agirá quando necessário".

O corte nos juros ocorre no momento em que a economia americana parece ter atolado no quarto trimestre, depois de crescer a um índice anualizado de 4,9% no terceiro trimestre. A principal causa é a queda nas construções de casas, uma tendência que deve continuar diante do número de casas encalhadas, que continua crescendo. Mas o consumo das famílias também diminuiu fortemente por causa da alta dos combustíveis e do crescimento mais lento do mercado de trabalho.

A Macroeconomic Advisers, uma respeitada firma de previsões, informou ontem que espera agora que a economia, pela primeira vez desde a recessão de 2001, se contraia levemente no atual trimestre. Ela prevê que o crescimento volte para 1,8% no primeiro trimestre de 2008.

O desaquecimento não é o principal temor no Fed, que esperava crescimento menor no início do ano que vem e uma retomada do ritmo normal no meio do ano. Mas a fraqueza pode agora ser intensificada pelo aperto crescente no crédito.

Os juros de empréstimos para donos de imóveis, consumidores e empresas continuam estáveis ou subiram nos últimos meses, apesar do corte do Fed na taxa básica de juros, porque os fornecedores do crédito exigem um colchão maior para o risco de inadimplência. Por exemplo, os juros dos empréstimos imobiliário "jumbo" de 30 anos, para empréstimos acima de US$ 417 mil, aumentaram de 6,7% ao ano no fim de outubro para 6,9%, enquanto o financiamento típico de automóveis ficou na faixa dos 6,9% no período.

Ao mesmo tempo, o volume de empréstimos concedidos caiu. A emissão desde julho de novos títulos garantidos por financiamentos automotivos caiu 38% ante o mesmo período no ano passado, segundo o Deutsche Bank. Por outro lado, a emissão de títulos garantidos por recebíveis de cartões de crédito aumentou fortemente.

A razão para as condições mais restritas no crédito parece ser uma combinação de preocupações com recessão, que pode aumentar o número de inadimplentes; a emissão de títulos com empréstimos difíceis de avaliar, como hipotecas subprime, ou de alto risco; e a movimentação dos bancos e outras instituições para preservar seu próprio caixa e aumentar o seu capital.

Essas condições tornam muito mais difícil para o presidente do Fed, Ben Bernanke, discernir a abordagem certa em relação aos juros. Geralmente o Fed avalia os prognósticos para a economia com base em fatores mais convencionais, como quanto os estoques e empregos diferem dos níveis normais, ou quão alta é a meta de juros do próprio banco central.

Brian Sack, um economista da Macroeconomic Advisers LLC, disse que o Fed enfrenta dois grandes mistérios: "Primeiro, como as condições financeiros vão evoluir a partir daqui, e dois, como as condições financeiros afetam o resto da economia."