Título: Senado americano aprova mais incentivos ao etanol
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2007, Agronegócios, p. B13

O Senado dos Estados Unidos aprovou na semana passada a criação de incentivos que deverão aumentar de maneira significativa o consumo de combustíveis alternativos como o etanol no país, dando um empurrão na indústria doméstica e ao mesmo tempo criando oportunidades para produtores de países que são mais competitivos que os EUA nessa área, como o Brasil.

Depois de meses de negociações, o Senado aprovou um projeto de lei que obrigará as refinarias americanas a aumentar gradualmente o uso de biocombustíveis nos próximos anos, até atingir a meta de 136 bilhões de litros de consumo anual, cinco vezes o que o país consome atualmente. A iniciativa precisa ser ratificada pela Câmara dos Representantes, o que provavelmente ocorrerá nesta semana.

A proposta estabelece um limite para a produção de etanol de milho, a única matéria-prima usada em larga escala pela indústria americana hoje em dia, e determina que mais da metade da meta seja alcançada com o desenvolvimento de combustíveis de nova geração como o etanol celulósico, que pode ser feito com capim e resíduos vegetais.

A meta estabelecida para o consumo de etanol de milho equivale a 57 bilhões de litros por ano. Para muitos especialistas, é o máximo que as usinas americanas podem produzir sem gerar complicações como um colapso na oferta de milho para outros setores da economia. Os EUA devem produzir neste ano 25 bilhões de litros.

Outros 79 bilhões de litros deverão ser obtidos com a produção de etanol celulósico, biodiesel e outros combustíveis que o projeto classifica como "avançados". É nessa categoria que se enquadra o álcool feito de cana-de-açúcar, como o produzido no Brasil. O projeto permite que o consumo de etanol de cana atinja 15 bilhões de litros por ano.

Isso representa mais do que o volume de álcool consumido pelo Brasil neste ano e equivale a um quarto do que o país terá condições de produzir na mesma época em que os americanos esperam alcançar essa meta, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

As novas metas foram estabelecidas num momento em que a indústria americana atravessa uma fase crítica. As usinas estão perto de produzir mais do que o necessário para atender a demanda existente e isso fez despencar os preços do etanol no mercado, reduzindo a lucratividade das usinas e inibindo a realização de novos investimentos.

As metas definidas pelo Congresso deverão reanimar o setor porque as refinarias terão que cumpri-las obrigatoriamente, o que aumentará a demanda pelo combustível. Nos EUA, o álcool é usado principalmente como um aditivo à gasolina, porque não existem redes de distribuição e postos prontos para vender volumes maiores do combustível.

O tamanho das oportunidades que serão criadas para o Brasil vai depender de vários fatores. O governo americano poderá ajustar as metas estabelecidas pelo Congresso no futuro se a indústria tiver dificuldades para desenvolver novos combustíveis alternativos como o etanol celulósico, ou se os preços do álcool subirem demais e tornarem o cumprimento das novas metas muito custoso para as refinarias.

Em 2006, quando houve um súbito aumento na demanda por etanol nos EUA e a indústria doméstica não conseguiu atendê-lo, os preços do combustível subiram tanto que as refinarias americanas passaram a importar grandes volumes de álcool do Brasil, apesar da tarifa que encarece o produto brasileiro para proteger as usinas dos EUA contra a concorrência externa.

Um fenômeno semelhante pode ocorrer nos próximos anos se a indústria local tiver dificuldades para cumprir as novas metas e isso fizer os preços do combustível subir novamente no mercado americano. A tarifa que os Estados Unidos impõem à importação de etanol deve continuar em vigor pelo menos até o fim do ano que vem. Um projeto em discussão no Congresso prorroga a tarifa por mais dois anos.