Título: Impacto pode ser maior sobre a Usiminas e a CST
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Empresas &, p. B6

A proposta da Companhia Vale do Rio Doce de aumentar em 90% os preços do minério de ferro, se confirmada, deve afetar as siderúrgicas brasileiras de forma diferenciada. Há empresas que dependem mais do minério da Vale e que portanto estariam sujeitas às maiores pressões, como o sistema Usiminas-Cosipa e a Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST). Já outras empresas têm minas próprias, caso da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), ou relação especial no fornecimento de minério com a Vale, como ocorre com a Cia. Belgo Mineira. As usinas da Belgo, pertencente ao grupo Arcelor, trabalham com aciaria elétrica, que utiliza sucata e ferro-gusa e que, portanto, não são dependentes do minério para funcionar. Esse também é o caso da maior parte das usinas do grupo Gerdau, com exceção da Açominas. A Belgo só tem uma planta integrada, que consome minério em escala, a usina de Monlevade, produtora de fio-máquina. Em novembro do ano passado, a Belgo arrendou a mina do Andrade, que abastece a planta de Monlevade, para a Vale por US$ 10 milhões. O contrato dá à mineradora direitos exploratórios sobre a mina por período de 40 anos e implica no pagamento à Belgo de royaltes sobre o minério extraído, a partir do segundo semestre de 2008. Fonte do setor avaliou que ao fazer a proposta de reajuste 90% no preço do minério de ferro a Vale quer "pegar carona" no ciclo de alta de preços da siderurgia, verificado em 2004. A tendência apontada pelas siderúrgicas, no fim do ano passado, era de que esse ciclo deve manter-se por algum tempo, embora houvesse a expectativa de que os preços pudessem recuar no último trimestre de 2005. Contudo, os anúncios feitos pelos produtores de matéria-prima, como minério de ferro e carvão, têm surpreendido a siderurgia nacional. No dia 14, representantes do setor estiveram reunidos, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. O encontro permitiu expressar a preocupação, tanto do governo quanto dos empresários, sobre os efeitos inflacionários do aumento das matérias-primas usadas na fabricação do aço. As siderúrgicas, que previam um refluxo de preços para o fim de 2005, receberam uma pressão inesperada no início do ano, o que deverá manter elevados os preços do aço. As usinas fizeram as contas e afirmam que, entre julho de 1994 e dezembro de 2004, o aço subiu 301% enquanto as matérias primas foram reajustadas em 527%.