Título: Apetite por investimento é menor em 2004/05
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Agronegócios, p. B9

A atual safra (2004/05) está longe de ser o melhor momento para investimentos no setor agropecuário. O produtor abandonou a febre consumista e está pensando muito antes de fazer novas dívidas com máquinas e equipamentos. O desânimo foi provocado pelo cenário desfavorável de preços para soja, algodão, milho, trigo e arroz. O desembolso dos recursos da linha Moderfrota (renovação da frota de tratores e colheitadeiras), por exemplo, está em menos da metade do orçamento de R$ 5,5 bilhões aprovado pelo governo para 2004/05. Até dezembro, haviam sido emprestados R$ 1,9 bilhão. "Na safra passada, tínhamos muita demanda, mas pouco recurso. Agora, inverteu-se o fluxo", admitiu Derci Alcântara, diretor de Agronegócios do Banco do Brasil. O BB tem sentido fortemente esse desempenho vacilante. Entre julho e dezembro de 2004, foram emprestados R$ 165,7 milhões na linha de investimento, um resultado 28% abaixo dos R$ 230,9 milhões registrados na mesma época de 2003. "O produtor está cauteloso e, com certeza, não fará investimentos no mesmo ritmo que já fez", disse Alcântara. Segundo ele, há produtores capitalizados, mas muito desconfiados com o futuro. O BB espera elevar o desembolso nas próximas feiras agropecuárias de Cascavel (PR), Não-Me-Toque (RS), Rio Verde (GO) e Ribeirão Preto (SP). "Vamos tentar aplicar os recursos nessas feiras, mas as indústrias terão que fazer promoções para atrair os produtores". Os produtores confirmam a falta de apetite pelos investimentos. "Houve uma pisada no freio muito brusca. Passou mesmo aquele boom de compras", afirmou Mario Pegorer, produtor em Chapadão do Sul (MT) e cerealista em Santa Cruz do Rio Pardo (SP). Segundo ele, que planta 1,5 mil hectares de soja, boa parte dos produtores profissionais conseguiu antecipar a atual crise e comprou antes, na bonança. "A demanda não está nada firme por aqui", reforça Nilson Andrade, presidente da cooperativa de Paraguaçu (MG), próxima a Alfenas. "O café está saindo de uma crise feia e o milho começa um ciclo difícil".