Título: Teles investem em mídia própria
Autor: Ivana Moreira e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Empresas &, p. B4

A Oi, empresa de telefonia móvel da Telemar, colocou no ar ontem, em Belo Horizonte, a Oi FM. A emissora é uma parceria com o grupo mineiro Bel, dono da concessão para a faixa 93,9 FM na região metropolitana de Belo Horizonte. A Oi será a principal patrocinadora da rádio, com direito a participar da definição do conteúdo. A operadora não revela o valor do investimento. A iniciativa vem dois anos depois do lançamento, pela Oi, de uma revista própria, que é distribuída aos seus clientes e também vendida em banca. Mais do que uma tacada de marketing, ações do gênero marcam a incursão crescente das empresas de telecomunicações no terreno da mídia. O movimento é alimentado por inovações tecnológicas (que permitem, por exemplo, veicular programas de TV pelo celular) e pela estratégia das teles de estabelecer um relacionamento mais estreito com os clientes. A rádio poderá ser levada a outras capitais onde a empresa de telefonia atua. A emissora customizada - a primeira do gênero no país - pretende atrair o público jovem em geral e não apenas os assinantes da Oi. No entanto, na programação não faltarão incentivos para o uso dos serviços de voz e dados da operadora. Por exemplo, para saber o nome de uma música que tocar na rádio, e de seu cantor, o ouvinte terá de enviar uma mensagem de texto de seu celular. Em seguida, receberá a resposta no aparelho. Da mesma forma, poderá acessar o conteúdo dos programas jornalísticos e ainda ouvir a programação da rádio por telefone. O mesmo é feito na revista Oi, que estimula o acesso a conteúdos adicionais por meio do celular. A revista é bimestral e já está na 14ª edição. A tiragem é de 100 mil exemplares, sendo quase 90 mil distribuídos gratuitamente para os clientes que mais usam os serviços da operadora. O restante é vendido em banca, por R$ 7,90. A Vivo, empresa dos grupos Portugal Telecom e Telefónica Móviles, lançou sua revista em outubro do ano passado. A tiragem é de 100 mil exemplares e a forma de distribuição é parecida com a da revista da Oi. Nos dois casos, as publicações são voltadas para comportamento - moda, cultura, música etc. As revistas são feitas por editoras contratadas, mas a produção do conteúdo é supervisionada pelas teles. O vice-presidente de marketing da Vivo, Luiz Avelar, diz que a empresa participa do conselho editorial da revista. "A Vivo controla a qualidade das matérias, dos textos, de todo o conteúdo", diz. As operadoras também estão avançando em outras frentes. A Brasil Telecom lançou no fim de 2004 um serviço de vídeo sobre a rede de banda larga. É uma espécie de "pay-per-view" de filmes que podem ser vistos pelo computador. A Vivo e a TIM fizeram parceria com emissoras de TV para veicular programas pelo celular. As operadoras já têm concessão ou autorização para atuar na telefonia. Por isso, não podem ter outra concessão de serviços de comunicações, mas podem fazer parcerias com empresas que têm, segundo a Anatel. Foi o que fez a Oi com o grupo Bel. Na prática, as empresas de telecomunicações estão produzindo ou gerenciando conteúdo, algo originalmente feito com exclusividade pelas empresas de mídia. Em contrapartida, operadoras de TV paga estão se aproximando da telefonia. A TVA, do grupo Abril, lançou no ano passado um serviço de voz com tecnologia de protocolo de internet. A Net, controlada pela Globopar, tem planos de seguir pelo mesmo caminho. Como os grupos de comunicação são sujeitos a regras diferentes - inclusive em relação à participação de investidores estrangeiros no negócio -, começa a surgir um debate sobre a atuação das teles nesse tipo de serviço. "A convergência tecnológica e de meios é uma realidade. Pode ser a abertura de um caminho incontrolável", diz o deputado Miro Teixeira (PPS-RJ), ex-ministro das Comunicações. Na avaliação do parlamentar, as regras dos setores de telecomunicações e mídia precisam ser revistas para abrigar a nova realidade. "Não se pode impedir o acesso do consumidor aos resultados dessa evolução", observa. Porém, Teixeira afirma que é preciso agir com cautela para que não haja regras diferentes para o mesmo serviço.