Título: Minério de ferro deve atingir valor recorde
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Empresas &, p. B6

Analistas do setor de mineração estão alterando para cima suas projeções de aumento de preço do minério de ferro para este ano. O percentual de 20% passou a ser piso e já se fala numa média de 35%. A expectativa é que as negociações entre as grandes mineradoras e as siderúrgicas da Ásia e da Europa fechem ainda este mês com percentual inédito. A terceira rodada de negociações das mineradoras australianas e Vale do Rio Doce com as siderúrgicas japonesas está marcada para quarta-feira. A terceira rodada das usinas européias com a Vale está em em curso, conforme relatório da Brascan. O primeiro a rever de 20% para 35% sua projeção de reajuste foi o Banco Pactual. O banco baseou-se num cenário de suprimento apertado e demanda firme pelo minério, mais o bom desempenho do setor de aço e depreciação do dólar ante o euro e o dólar australiano. O HSBC trabalha com alta de 25%. "A Vale tem este ano maior poder de barganha do que no ano passado", destacou Fábio Zagatti, analista do banco, para quem o reajuste sobre o resultado das mineradoras em 2005 vai ser forte. Mas, o desempenho dessas companhias não vai depender só do preço. "Além do reajuste, o câmbio e novas capacidades entrando em operação vão influir no desempenho das mineradoras". Zagatti ressaltou que a manutenção de um real apreciado é ruim para a Vale. A AME Minerals Economics, consultoria australiana do setor mineral, opera com 25% de projeção.

Pedro Galdi, da ABN-AMRO Real Corretora ainda mantém 20% de reajuste, percentual que ele já considera conservador. "O mercado está dividido entre 20% e 35%. Os 20% já viraram piso. A possibilidade de vir mais que isto é maior". Galdi prevê que a Vale deverá ampliar sua produção e consequentemente suas vendas. Em 2004, a mineradora vendeu 180 milhões de toneladas de minério e, para este ano, ele espera comercialização de 200 milhões de toneladas. Galdi crê que o câmbio também influirá na negociação a favor das mineradoras. Elas têm reajuste em dólar, enquanto o cliente europeu opera com euro, que está 30% superior ao dólar. "A disparidade de moedas vai funcionar como poder barganha das mineradoras para ampliar o reajuste de preço", diz. Em um relatório recente, o analista Marcelo Aguiar, da Merrill Lynch, projeta alta de 22%. Para ele, Usiminas e CST serão as mais prejudicadas. Na Usiminas, o minério de ferro responde por 10% do custo final do aço. O lucro da empresa, segundo a conta de Aguiar, deve ser reduzido em 0,2% por cada 1% de alta do minério. A CST, onde o minério responde por 18% do custo final da placa, será a mais afetada. Nas contas de Aguiar, a usina capixaba terá redução de 0,2% no seu lucro a cada 1% de reajuste do minério de ferro. A perda em percentuais é igual a da Usiminas, mas o peso do minério no custo final da CST é maior. A CSN será a única beneficiada porque tem mina própria, a de Casa de Pedra (MG). Além de suprir a companhia, a mina coloca 7 milhões de toneladas no mercado doméstico e começará a exportar no último trimestre de 2005. A cada 1% de reajuste do minério, a CSN incorpora 0,04% no seu lucro. A Gerdau fica neutra nesse processo, constata Aguiar, pois o grupo gaúcho só consome minério de ferro na Açominas. O resto das suas usinas utiliza sucata. Mesmo com pressões de custo, incluindo o carvão que já subiu para US$ 125 a tonelada (FOB), as siderúrgicas manterão rentabilidade alta e geração de caixa, prevê o analista. Esse quadro favorável baseia-se na melhora no mercado interno. Por conta disso, as usinas já retomaram os aumentos de preços no mercado doméstico. Este mês, a Usiminas subiu em 15% a tonelada da chapa grossa e em 10% a do laminado à quente. A CST deverá acompanhá-la no segundo trimestre nos mesmos produtos e com os mesmos percentuais de alta. Entretanto, o céu não é de brigadeiro. Por conta de uma esperada retração do nível de atividade nos Estados Unidos e de maior produção interna na China, Aguiar desenha um cenário de queda dos preços do aço em até 20%. Mas, lembra que os patamares de preços dos produtos siderúrgicos ainda estarão muito elevados. A placa de aço, hoje em US$ 540 a tonelada, deverá cair para US$ 415. Em 2003, valia US$ 230. O laminado à quente poderá estabilizar-se em US$ 470.