Título: Campo ratifica exportação e superávit recordes em 2004
Autor: Fernando Lopes
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2005, Agronegócios, p. B9

Confirmados os recordes nas exportações e no superávit dos agronegócios em 2004, cresce a expectativa quanto ao desempenho da balança comercial do campo em 2005. Enquanto muitos analistas, economistas e entidades representativas como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projetam queda de resultados, principalmente em razão da prevista baixa da receita com embarques de grãos, o Ministério da Agricultura acredita na manutenção dos números apurados no ano passado ou em pequena melhora, baseado nas boas perspectivas para açúcar e álcool, carnes e café. Em 2004, as exportações totais do setor alcançaram US$ 39,016 bilhões, um aumento de 27,3% em relação à receita registrada no ano anterior (US$ 30,639 bilhões). As importações cresceram 1,9% na mesma comparação - de US$ 4,790 bilhões para US$ 4,881 bilhões -, e o superávit, com isso, passou de US$ 25,849 bilhões, em 2003, para US$ 34,135 bilhões no ano passado. A União Européia manteve a posição de principal destino dos produtos nacionais do agronegócios em 2004, mas sua participação nas exportações caiu de 36,4%, em 2003, para 34,4%. No caso da Ásia, a fatia subiu de 18,1% para 19,7%, e no do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), houve aumento de 17,3% para 16,2%. Entre os principais produtos do agronegócio exportados pelo país, o complexo soja (que inclui grão, farelo e óleo) voltou a ser o carro-chefe no ano passado, com US$ 10,048 bilhões, 23,7% mais que em 2003 (US$ 8,125 bilhões). As carnes (bovina, suína e de frango) mantiveram a segunda posição neste ranking, com embarques totais de US$ 6,144 bilhões, 50,4% mais. As vendas externas de madeira e suas obras renderam US$ 3,781 bilhões, com crescimento de 44,3%, e açúcar e álcool vêm em seguida, com divisas de US$ 3,138 bilhões e salto de 36,6% sobre o ano anterior. Os pessimistas quanto ao desempenho da balança do campo em 2005 baseiam suas previsões na esperada retração da receita com os embarques de soja, cujos preços internacionais recuaram cerca de 30%. A própria Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que reúne as empresas exportadoras, estima queda de cerca de US$ 1 bilhão nas vendas externas do complexo no acumulado do ano. Eliezer Lopes, coordenador-geral de apoio à comercialização do Ministério da Agricultura, admite que essa tendência é forte, mas que pode perfeitamente ser compensada pelo aumento da receita proveniente de outros produtos - carnes, café, açúcar e álcool. "No caso dos grãos, incluindo também milho e trigo, a receita com as exportações pode cair de US$ 11 bilhões, em 2004, para cerca de US$ 9,5 bilhões, uma vez que os preços internacionais se mantenham em baixo patamar. Mas a retração pode ser revertida. Teremos provavelmente resultados menos intensos em 2005, com redução das velocidades de crescimento de exportações e saldo, mas acredito em manutenção ou mesmo em pequenos aumentos", disse Lopes. Ele concorda que o setor sucroalcooleiro tende a se transformar no grande destaque da balança dos agronegócios em 2005, em razão dos melhores preços externos do açúcar e da cada vez mais aquecida demanda por álcool. Em relação a 2003, o salto verificado no ano passado foi de 36,6%, e pela primeira vez na história as vendas externas de álcool bateram em US$ 500 milhões. Se, para açúcar e álcool, Lopes estima aumento dos volumes e das receitas das exportações neste ano, para o complexo carnes ele projeta crescimento dos volumes das vendas, mas estabilidades nos preços praticados e, portanto, da receita. "Estados Unidos e Canadá ainda enfrentam problemas como a doença da 'vaca louca', o que favorece a carne bovina brasileira, e a gripe das aves não foi controlada na Ásia, o que ajuda a carne de frango". Para o café, finalmente, Eliezer Lopes confia que a curva de alta das cotações externas gerará mais divisas ao país no ano.