Título: BNDES desembolsou em janeiro R$ 3,8 bilhões
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Brasil, p. A4

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou no primeiro mês do ano R$ 3,8 bilhões, principalmente em operações indiretas, onde se destacam pequenas e médias empresas e o BNDES-Exim. A presença dos grandes projetos entre as liberações ainda é pequena. Mesmo assim, o número de janeiro foi considerado promissor por fontes do governo. Anualizado, projeta liberação anual na faixa de R$ 50 bilhões, considerada mais factível pela área operacional do banco do que o orçamento de R$ 60,8 bilhões. No ano passado, o resultado do primeiro mês do ano ficou na faixa de R$ 2 bilhões. Mas o BNDES, na ocasião, optou por não divulgar o número isoladamente, preferindo anunciar o desempenho do primeiro bimestre (janeiro e fevereiro), que somou R$ 5,1 bilhões. Hoje, a grande dúvida no banco é se a instituição vai conseguir ou não cumprir a meta de R$ 60,8 bilhões. Há temores de que no final do ano ocorra o mesmo que em 2004, quando a instituição de fomento foi cobrada por não desembolsar os R$ 47,3 bilhões adotados por sugestão do Ministério do Desenvolvimento. O problema principal ainda continua sendo a demanda. O fato não impede o banco de partir para a busca de fundos para compor os R$ 60,8 bilhões orçados para 2005. Para isto, a administração do BNDES está estudando monetizar parte de sua carteira de ações que hoje soma R$ 30 bilhões. O objetivo é colocar gradualmente no mercado de capitais, via Bovespa, papéis de empresas nas quais o banco tem participações equivalentes a R$ 5 bilhões. Esta colocação poderá ser feita através de venda direta em bolsa ou usando os Papéis Índice Brasil-Bovespa (PIBB) como instrumento. O PIBB foi lançado no segundo semestre do ano passado no mercado e oferece um pacote de 50 ações da carteira do banco na bolsa paulista. As estratégias dessas operações estão sendo desenhadas na área financeira da instituição, comandada por Carlos Kawall, economista que durante oito anos trabalhou na área de pesquisa do Citibank, desenhando cenários macroeconômicos para o Brasil. A idéia é não tumultuar o mercado acionário com ofertas excessivas de papéis que poderão contribuir para desvalorizar ações de empresas presentes na carteira do BNDES, que vão desde blue chips, como Petrobras, Vale do Rio Doce, até a de empresas de segundo time das quais o banco é sócio. Reforçar o PIBB é um caminho para não criar pânico no mercado de capitais. Na avaliação de fontes do banco, o PIBB fracassou na sua missão de atender o pequeno investidor, pois foi mais demandado por bancos, que realizaram lucros imediatos através de vendas isoladas de ações do pacote de 50 títulos. Por conta disso o banco está também revendo como poderá atuar mais firmemente para integrar o pequeno investidor ao mercado de capitais. Além da monetização, o BNDES pretende recorrer à linha do FAT Especial e obter recursos de agências multilaterais e de eximbanks no mercado externo. Pretende, ainda, lançar debêntures da BNDESpar, corrigidas pelo Índice Geral de Preços (IGP) no mercado interno, conforme antecipou ao Valor em entrevista, o presidente do banco, Guido Mantega. O presidente reconheceu que atingir o orçamento de R$ 60,8 bilhões este ano é um grande desafio, mesmo sendo um ano de crescimento econômico. Apesar do "foco" nos grandes projetos, com destaque para os setores de petroquímica, siderurgia e infra-estrutura, onde as ferrovias e o setor de energia são os destaques, as pequenas e médias empresas e o programa de exportação continuam formando hoje o grande bloco demandante dos recursos do banco. No ano passado, estes tomadores consumiram mais de 50% dos desembolsos e, pela performance de janeiro, tudo indica que esta tendência permanece. No entanto, a gestão atual continua, como na administração anterior, fazendo esforços para tornar o dinheiro do BNDES mais atraente para as grandes empresas.