Título: Emprego recorde em 2010
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 28/01/2011, Economia, p. 11

Avanço do mercado formal faz taxa de desocupação no país cair para 6,7%

A carteira assinada já não é mais um sonho distante para quem procura emprego. Com as contratações a todo vapor, o país comemora a formalização de um número cada vez maior de trabalhadores. No ano passado, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil registrou o maior percentual de celetistas da história: 46,3% entre o total de ocupados, ou 10,2 milhões de pessoas ¿ em 2003, a taxa era de 39,7%. O avanço do mercado formal é reflexo direto do desemprego em queda. Em dezembro, a taxa de desocupação ficou em 5,3%, ajudando 2010 a fechar com a menor taxa de desocupação de todos os tempos, 6,7% ¿ em 2009, o índice ficou em 8,1%.

Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, explicou que o avanço da formalização foi expressivo em todas as regiões do país e atividades. ¿O cenário econômico favorável, a preocupação dos empregadores com os encargos trabalhistas e o esclarecimento da população contribuíram para a mudança¿, reforçou. Segundo ele, o único segmento que ficou aquém do esperado foi o de serviço doméstico. E as razões são conhecidas. Muitas vezes, esses profissionais abrem mão de ter a carteira assinada para ganhar mais, por exemplo, fazendo diárias. ¿No longo prazo, isso é um prejuízo, pois eles ficam sem os direitos¿, observou Azeredo.

Mesmo com a alta oferta de vagas, o país ainda sofre com a desigualdade regional. ¿Em Salvador (BA), a média do desemprego no ano chegou a cerca de 10%, enquanto Porto Alegre ficou com 3%¿, disse o economista Anselmo Luiz dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para ele, a migração vira alternativa para quem não encontra ocupação. ¿Se não há oportunidade de emprego em determinada área, em outro lugar com certeza terá¿, justificou.

As informações do IBGE mostram ainda um mercado de trabalho mais escolarizado em 2010. Entre os empregados, aqueles com 11 anos ou mais de estudo representaram 59,2% do total, contra 57,5% de 2009. Ainda assim, há carência de mão de obra especializada. ¿Quando o desemprego cai, a qualidade da ocupação ganha destaque. Construção civil, tecnologia e metalurgia, por exemplo, demandam um profissional com alto nível de conhecimento, que falta no mercado¿, alertou Santos. Com o apagão de mão de obra, os investimentos em educação e formação profissional passam a ser prioridade. ¿O governo brasileiro não terá outra saída senão uma política educativa forte¿, completou o especialista.

Maturidade Trabalhadores com 50 anos ou mais e mulheres também vêm ganhando força e ampliando suas participações no conjunto de empregados formais no país. De acordo com o estudo do IBGE, a participação do contingente feminino no mercado quase se igualou ao masculino. No ano passado, 45,3% dos ocupados eram mulheres. ¿Hoje, elas estão se preparando mais que os homens. Vemos muito mais mulheres em cursos superiores. Nas próximas décadas, isso deve se intensificar. Agora, temos uma presidenta, o que pode ser um incentivo¿, advertiu a economista da Trevisan Anapaula Iacovino. Os idosos também estão voltando a disputar espaços. ¿O aposentado não recebe o suficiente para se manter, então retorna ao mercado. A população tem uma expectativa de vida maior que, muitas vezes, se torna produtiva¿, lembrou Cimar Azeredo, do IBGE.

A queda do desemprego significa forte ascensão social e tem impactos sobre uma série de indicadores que, no futuro, poderão elevar o país a patamares de desenvolvimento melhores. ¿O emprego faz crescer o grau de cidadania e reconhecimento entre os outros membros. Os desempregados se sentem psicologicamente excluídos¿, argumentou o pesquisador em sociologia do trabalho da Universidade de Brasília (UnB) Sadi dal Rosso.

Diferenças Pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Fundação Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgada ontem, mostrou que a taxa de desemprego encerrou dezembro em queda, passando de 10,6% para 10,1% da População Economicamente Ativa (PEA). No apanhado de 12 meses do ano passado, o índice médio de desemprego caiu para 11,9% ante 14%, registrado em 2009. O total de desempregados estimados em 2,620 milhões teve redução de 418 mil em relação ao ano anterior.