Título: Basiléia 2 teria reduzido o impacto da crise das hipotecas subprimes
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2008, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse que a crise das hipotecas de alto risco (subprime) teria tido impacto muito menor se as novas regras de capital mínimo dos bancos, chamada de Basiléia 2, já estivessem em vigor. Meirelles abordou a questão em seminário sobre o risco Brasil, organizado pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Valor.

O especialista Osias Brito, diretor do Banco Fibra e autor do livro Gestão de Riscos, lançado neste mês pela Editora Saraiva, concorda com Meirelles.

Brito explicou que Basiléia 2 teria exigido maior alocação de capital dos bancos que montaram os Special Investment Vehicles (SIVs), veículos criados fora do balanço para abrigar os investimentos em títulos lastreados em hipotecas de alto risco. Os SIVs nasceram com passivos e ativos gigantes mas patrimônio pequeno. Captaram recursos emitindo títulos de um ou dois anos para aplicar em papéis lastreados em hipotecas de 30 anos.

Pelas regras atuais, as autoridades monetárias avaliam os SIVs "no bolo geral" dos bancos. No futuro, porém, os riscos serão examinados individualmente. Basiléia 2, explicou Brito, entra no tipo de risco e no conceito da operação. "As autoridades já teriam pedido mais capital aos bancos para manter os SIVs. Se não se capitalizassem, os bancos teriam que reduzir as posições. O risco seria pego na origem", disse Brito

Além disso, acrescentou, Basiléia 2 leva em conta o risco de liquidez, que vem causando pesadas desvalorizações dos ativos securitizados de hipotecas subprime.

Pelas regras atuais de Basiléia 1, emprestar para uma multinacional e para uma empresa média exige o mesmo nível de capital dos bancos. Um empréstimo para qualquer empresa ou pessoa física tem ponderação de 100%; para um banco, de 50%; e um investimento em título de governo, zero.

Em Basiléia 2, o rating do tomador de crédito e seu histórico vão determinar o cálculo da exigência de capital que poderão ser definido por modelos internos do próprio banco. Empréstimos a pessoas físicas terão risco menor e menor exigência de capital.

Elaborado pelo Banco para Compensações Internacionais (BIS), localizado em Basiléia, Suíça, o novo acordo de alavancagem dos bancos deverá estar totalmente implementado entre 2010 e 2011, disse Brito. O cronograma de adoção é variável conforme o mercado.

O objetivo de Basiléia 2, disse Brito, é evitar que problemas no sistema financeiro afete a economia como um todo. O problema do subprime, explicou, afeta a economia em geral porque a insegurança leva os bancos a restringirem a oferta de crédito e não há recursos para financiar o crescimento.

A lógica da exigência de capitalização é que os bancos evitam ter capital além do necessário não só pelo custo como também pesa na rentabilidade. O retorno é medido pela relação entre lucro e patrimônio: quanto maior o patrimônio, maior precisa ser o lucro.