Título: Fábrica de resina verde vai para MG
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/12/2007, Empresas, p. B1

A Crystalsev, uma das maiores tradings de açúcar e álcool do Brasil, e a Dow, maior empresa química dos Estados Unidos, praticamente já definiram a cidade mineira de Santa Vitória como sede do primeiro pólo alcoolquímico do país. O município de 15 mil habitantes fica no Triângulo Mineiro.

O investimento é estimado em US$ 800 milhões, afirmou ao Valor Cícero Junqueira Franco, um dos acionistas da Santelisa Vale, resultado da fusão entre as usinas Cia. Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP), e Cia. Açucareira Vale do Rosário, de Morro Agudo (SP), e outras três usinas paulistas. A Santelisa Vale controla 70% da Crystalsev.

O projeto inicial previa a construção de uma unidade produtora de álcool para processar 8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, o que equivale a cerca de 800 milhões de litros de álcool. Segundo Junqueira Franco, o projeto deverá ser ampliado. Os grupos devem erguer duas usinas de álcool, que também serão integradas a uma fábrica de polietileno no mesmo complexo industrial alcoolquímico.

"Faltam definir apenas detalhes burocráticos", disse Junqueira Franco. Em julho deste ano, a Crystalsev e a Dow formalizaram a parceria para a produção da chamada resina verde, matéria-prima para produção de produtos plásticos. À época, as duas companhias anunciaram que a nova planta poderia ser construída em São Paulo, Minas Gerais ou até mesmo Mato Grosso do Sul, considerado a nova fronteira para cana no Centro-Oeste.

"A região de Santa Vitória já tinha sido escolhida pela Crystalsev para seu projeto de usina de açúcar e álcool. O grupo já tem viveiros de cana plantados e agora só falta definir o tamanho das indústrias", afirmou Junqueira Franco. Pelo processo de produção, o álcool é convertido em eteno e, depois, transformados em polietileno. A idéia inicial é produzir 350 mil toneladas desta resina por ano.

A expectativa é de que o complexo alcoolquímico entre em operação a partir de 2011. "Mas as usinas de álcool devem iniciar o processamento de cana antes." Segundo o acionista, uma holding será criada para o mais novo negócio do grupo Santelisa Vale.

Com um faturamento estimado em torno de R$ 1,5 bilhão, o grupo criado a partir da fusão encerra esta safra 2007/2008 com o esmagamento de 17 milhões de toneladas, 13% acima sobre igual período do ciclo passado. Para 2008/2009, a expectativa é de que a Santelisa processe 21 milhões de toneladas de cana. "Em cinco anos, deveremos dobrar a moagem, quando todos os nossos novos projetos entrarão em operação."

A parceria com a Crystalsev é o maior projeto de investimento da Dow no país, que também é a maior aposta da empresa em um projeto de fonte de matéria-prima renovável. A empresa vem enfrentando dificuldades de fazer o ajuste de sua estrutura devido ao alto custo de matéria-primas baseadas em nafta e gás, as rotas mais conhecidas para a produção de polietieleno.

A política da Dow é firmar acordos para encontrar uma solução para contornar esses aumentos de custos. Em âmbito mundial, a Dow fechou aliança com a a Petrochemical Industries Company (PIC), do Kuait, para formar uma joint-venture em partes iguais. Por US$ 9,5 bilhões a ser recebido pela PIC, a Dow colocará cinco negócios, como a produção de polietieleno e polipropileno.

A situação da Dow não é nada confortável no Brasil. Apenas neste ano, a companhia vendeu uma fábrica (de polietileno, em Guarujá-SP, para o grupo Unipar), fechou outra e paralisou a atividade de uma terceira unidade. Outros negócios também podem ser fechados, como os de poliestireno. A Dow recusou o pedido de entrevista para falar sobre o projeto com a Crystalsev.