Título: Gol enfrenta atrasos nos vôos com plano de crescimento acelerado
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Empresas &, p. B1

Com resultados financeiros exuberantes e ações valorizadas na bolsa de valores após uma bem-sucedida oferta inicial em 2004, a Gol virou um exemplo global de sucesso na aviação. Mas, no quesito operacional, a companhia de baixo custo tem enfrentado alguma turbulência, especialmente nestas férias de verão. A origem do problema é, aparentemente, o seu rápido crescimento. Nos meses de dezembro e janeiro, em plena alta estação, a Gol apresentou uma taxa acima do normal de atrasos em seus vôos. Os transtornos foram sentidos por seus passageiros. Dados do Departamento de Aviação Civil (DAC) indicam que em dezembro a Gol registrou o pior índice de pontualidade entre as companhias aéreas domésticas - exceção feita à Vasp, que já estava em vias de ter suas atividades paralisadas. Os números de janeiro ainda não saíram, mas são esperados na mesma linha. O seu índice de pontualidade em dezembro foi 68, contra uma média de 85 do mercado, numa escala até 100. A média foi bastante prejudicada pelos 50 pontos da Vasp no mês. Varig e TAM tiveram índices na casa dos 90 pontos. O desempenho fraco em pontualidade afetou o índice de eficiência operacional da Gol - 62 pontos - que mede a probabilidade de um passageiro ter seu vôo realizado e no horário (combinação de regularidade e pontualidade). "A demanda nunca cresceu tanto na aviação brasileira e, aparentemente, houve falta de capacidade (aviões) para atender toda a procura", diz Rodrigo Góes, analista do setor aéreo do banco UBS. "Um indício disso é que, quando a Vasp parou, a TAM ganhou mais mercado que a Gol, porque tinha aviões disponíveis." Freqüentemente, os índices operacionais são contestados pelo próprio setor de aviação porque são as empresas que fornecem as informações ao DAC. Mas a Gol não contesta os números. "Houve um problema e temos que ter a humildade de reconhecer", afirma o comandante David Barioni, vice-presidente técnico da Gol. De acordo com ele, o problema está superado desde a quinta-feira, dia 3. Segundo Barioni, os atrasos tornaram-se mais freqüentes em novembro e foram mais sentidos em dezembro e janeiro. Os números do DAC mostram uma performance abaixo da média verificada ao longo de todo o ano passado. O executivo atribui o aumento de atrasos da companhia a dois fatores. "Dezembro, janeiro e fevereiro são meses de condições meteorológicas complicadas. Além disso, encomendamos um avião reserva que deveria chegar em 3 de dezembro e só foi entregue agora (dois meses depois)." Avião reserva fica estacionado em um aeroporto estratégico para cobrir eventuais problemas, em decorrência de fechamento de aeroportos ou falha no equipamento, por exemplo. A Gol orgulha-se de apresentar um aproveitamento máximo de suas aeronaves. Em média, seus jatos voam dez etapas e 14 horas por dia. "Os aviões praticamente atravessam o Brasil todos os dias. É um recorde mundial", afirma Barioni. A própria Boeing, fabricante dos jatos empregados pela companhia brasileira, já emitiu um estudo comparativo no qual mostra que nenhuma outra aérea no mundo que utiliza seus equipamentos tem alcançado produtividade tão elevada. Com um aproveitamento tão alto, no entanto, qualquer imprevisto em uma das etapas de vôo pode produzir um efeito-dominó. "Se um nevoeiro fecha o aeroporto de Porto Alegre logo cedo, atrasa a malha pelo resto do dia", explica Barioni. Ele não concorda com a tese de que o crescimento acelerado da empresa originou a crise de pontualidade. Em um ano, a empresa de quatro anos de vida passou da "participação de mercado de 22% para 24,3% (dezembro contra dezembro). Mas quando questionado sobre desde quando a Gol passou a precisar de um avião reserva, Barioni responde que foi a partir de meados de 2004. "Antes disso, a própria frota cobria os imprevistos", diz ele. Segundo o comandante, a necessidade de um reserva surgiu quando o número de vôos executados diariamente saltou de 270 para 305. "Em agosto de 2004, percebemos que precisaríamos de aeronave reserva e solicitamos ao DAC autorização para importa-la." A frota da Gol, que iniciou 2004 com 22 jatos, terminou o ano com 27. Agora, são 28 com a chegada do jato reserva na quinta-feira passada. Até julho, outras cinco aeronaves serão acrescentadas à sua frota. "O desafio de uma companhia aérea é ter um número de horas voadas elevado com pontualidade", diz André Castellini, vice-presidente da Bain & Company. Para ele, os atrasos devem ser superados pela Gol com o aumento da frota previsto para este ano. Góes, do UBS, é da mesma opinião. "É um problema de ajuste fino", acrescenta Castellini.