Título: Subsidiária brasileira da GM socorre matriz
Autor: Niero , Nelson ; Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 26/12/2007, Empresas, p. B6

As operações da região que abriga o Brasil são as que hoje garantem a maior parte dos lucros da General Motors em todo o mundo. Os ganhos daqui servem para compensar as perdas nos Estados Unidos, país de origem da maior montadora do mundo. No início do mês, a filial brasileira reduziu o capital em R$ 469 milhões e pretende enviar o dinheiro à General Motors Corporation e à GM LAMM Holdings, o braço da companhia que comanda os negócios na América Latina.

Os últimos números da GM, com resultados financeiros até setembro, mostra prejuízo acumulado de US$ 38,4 bilhões na América do Norte e resultado também negativo de US$ 2,647 bilhões na Europa. A região que na companhia leva a sigla LAMM (América Latina, África do Sul e Oriente Médio) registrou o maior lucro - US$ 754 milhões no período -, seguida por Ásia/Pacífico, que registrou resultado positivo de US$ 481 milhões. O peso dos negócios da filial brasileira na região da LAMM gira em torno de 60%.

A companhia que em 2008 chegará aos 100 anos mergulhada numa profunda crise financeira por conta dos maus resultados na matriz recolhe hoje o dinheiro nas lucrativas operações dos países emergentes. Em comunicado, a GM do Brasil explica que alterou o contrato social e reduziu o capital em R$ 469 milhões tendo em vista "o capital social excessivo em relação ao objeto social da sociedade". A decisão, informa o departamento de comunicação da montadora, "é uma operação de rotina sem impacto nas atividades da General Motors do Brasil".

As últimas informações disponíveis na Junta Comercial do Estado de São Paulo mostram que o capital da General Motors do Brasil é de R$ 254,7 milhões, ou seja, menor que a remessa proposta. Segundo a montadora, os números da Junta estariam desatualizados e recentemente teria havido um aumento de capital, sem dar mais detalhes.

A redução de capital é usada geralmente por empresas com prejuízo que precisam remunerar seus sócios. Como é uma companhia de capital fechado no Brasil, a GM não tem acionistas minoritários para prestar contas.

No entanto, lembra o advogado João Marcos Nabuco, especialista na área societária, o novo Código Civil deu aos credores um prazo de 90 dias para impedir a operação, já que a redução pode afetar a capacidade de pagamento das dívidas.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, há tempos a companhia tenta estancar os prejuízos. Mas, apesar das iniciativas bem-sucedidas, o mercado americano de carros, que já estava estagnado, complica-se ainda mais num momento em que a crise de crédito em toda a economia do país afeta os fabricantes de veículos, que se vêem encurralados pelos concorrentes asiáticos, sobretudo a Toyota. A GM ainda acerta contas com os operários que têm deixado o emprego por meio de aposentadorias antecipadas e programas de demissão voluntária.

Toda a indústria automobilística aproveita hoje o fôlego do crescimento das economias dos países emergentes para compensar a estagnação nas vendas de veículos em mercados maduros. As empresas mais bem-estruturadas nessas regiões, como é o caso da GM, ganham mais. O lucro líquido de US$ 754 milhões, obtido pela GM na região da LAMM até setembro representa crescimento de 86% em comparação com o resultado, também positivo, em igual período do ano passado.

A China também começa a despontar como potencial fonte de lucros para a montadora. Na semana passada, a empresa completou a produção de um milhão de veículos naquele país desde janeiro. A GM é hoje o maior produtor de veículos não-chinês naquele país. O vice-presidente mundial de compras da GM, Bo Andersson, que na semana passada visitou o Brasil para "agradecer o esforço dos fornecedores no crescimento da empresa", diz que hoje 25% das vendas da companhia são feitas nos países emergentes.

Segundo relatório da companhia para investidores, pelo 21º trimestre consecutivo foi atingido recorde de vendas fora dos Estados Unidos. O total de veículos da GM vendidos fora do país de origem chegou a 56% do total. Isso representou avanço de 14% quando comparado com o mesmo período de 2006. No terceiro trimestre, o volume de vendas da companhia cresceu 22% na região da América do Sul, África e Oriente Médio, 16% na região Ásia-Pacífico, e 21% na China e 75% na Rússia.