Título: Lucro da Petrobras deve empatar
Autor: Cláudia Schüffner e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Empresas &, p. B3

As empresas de petróleo que já divulgaram seus balanços demonstraram que foram beneficiadas com a alta de preços no mercado internacional. No Brasil há quem não espere salto tão grande no lucro da Petrobras, que será anunciado no dia 25 de fevereiro. A estatal fechou 2003, quando completou 50 anos, com lucro recorde de R$ 17,795 bilhões. Até setembro de 2004, o ganho acumulado somava R$ 13,295 bilhões. Para o acumulado de 2004, o Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE) projeta lucro líquido de R$ 17,9 bilhões para a Petrobras - sendo R$ 4,658 bilhões para o quarto trimestre - resultado que, se confirmado, será apenas 1% maior do que o registrado em 2003.

Convertido para o dólar médio de 2004, o resultado estimado pelo CBIE para a Petrobras aumenta 7%, com a companhia fechando o ano com lucro líquido de U$ 6,147 bilhões. Outra forma de contabilizar o resultado da companhia é fazendo as projeções já considerando as exigências contábeis americanas (USGaap), que a Petrobras divulga cerca de um mês após apresentar o balanço em reais. Foi o que fez a Merrill Lynch, que, por esse critério, projeta um lucro líquido de R$ 17,316 bilhões, 5,3% maior do que o do ano passado. No padrão contábil brasileiro, a projeção da Merrill Lynch é de que a Petrobras tenha lucro líquido de R$ 18,062 bilhões, apenas 1,5% acima do verificado em 2003. Enquanto isso, as empresas de petróleo que já divulgaram seus balanços demonstraram que se beneficiaram com a alta de preços no mercado internacional. O lucro da ChevronTexaco em 2004 aumentou 77% na comparação com o ano anterior, enquanto o da ExxonMobil - a maior petroleira do mundo - cresceu 18%. O ganhos da PhilippsConoco foram 72% maior, enquanto a Shell anunciou lucro recorde de US$ 17,59 bilhões em 2004. Esse valor é 38% maior que os ganhos obtidos pela empresa no ano anterior. Outra que já divulgou resultado maior que em 2003, em 25%, foi a independente Devon, que lucrou US$ 2,186 bilhões em 2004. Segundo o economista Adriano Pires, diretor do CBIE, o resultado da Petrobras em 2004 será afetado positivamente pelo aumento de 33% nos preços do petróleo e pela alta dos preços médios anuais da gasolina e do diesel, que subiram 6% e 5%, respectivamente. Tudo isso somado a uma redução de 65% nas importações líquidas de derivados e à valorização de 5% do real frente ao dólar. Em contrapartida, terão efeito negativo sobre o resultado a queda de 3% na produção e o aumento de 83% nas importações líquidas de petróleo. Comparando o lucro líquido projetado para o quatro trimestre (R$ 4,658 bilhões) com o trimestre anterior (R$ 5,488 bilhões), o economista do CBIE atribui a queda em reais a fatores como o aumento nos preços do barril de petróleo brent, o que impacta as importações da Petrobras. Por outro lado, ela promoveu aumento de 19% na gasolina e de 22% no diesel. O consumo de combustíveis no país aumentou 7%, o que foi bom para a estatal, que elevou em 9% o volume de óleo processado em suas refinarias. Mas. no computo geral, Adriano Pires acha que a Petrobras terá um resultado "péssimo", não tendo benefícios justamente em um ano em que as demais petroleiras tiveram resultados excepcionais. "Em um ano em que o petróleo teve cotação média de US$ 40 o barril, a Petrobras registrou queda da produção e prejuízos na área de gás e energia. Com isso, ela perdeu uma oportunidade espetacular de ultrapassar seu próprio recorde, o que mostra que a gestão da companhia não foi empresarial, mas sim política", afirma Pires. Os resultados da companhia nos próximos anos serão impactados pelo aumento na expectativa de vida dos funcionários ativos e inativos, que subiu de 13 anos para os ativos e 15 anos para os inativos, segundo o UBS Investment Research. Isso vai influenciar suas despesas futuras com planos e benefícios. A Petrobras informou que vai elevar, no seu balanço, o passivo relativo às obrigações com o plano de previdência complementar dos R$ 772 milhões verificados em 2003 para R$ 1,114 bilhão. Além desses valores, a companhia inclui em notas explicativas um outro passivo, de R$ 8,29 bilhões, referente a perdas atuariais. "Um aumento de despesas operacionais, sem nenhuma contrapartida positiva nos resultados, nunca é uma boa notícia. Em função disso, acreditamos que as ações da Petrobras devem ter um impacto negativo substancial com essa notícia", diz Luiz Caetano, analista do banco Brascan. Marcelo Mesquita, analista do UBS, tem visão oposta. "A empresa está adotando uma postura conservadora e isso é positivo porque aumenta a transparência." Em 2004, a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, apresentou um déficit atuarial de R$ 5,3 bilhões, bem superior ao de 2003, que era de R$ 2,1 bilhões. O presidente da Petros, Wagner Pinheiro, explicou que o déficit atuarial do fundo vinha crescendo nos últimos anos porque as premissas adotadas para estimar o volume de pagamentos não estavam adequadas à realidade. "Tanto que, nos últimos dois anos, nossa meta atuarial foi superada em 11%, o que equivale a R$ 2,3 bilhões. Mesmo assim, o passivo aumentou", diz ele, esclarecendo que esse passivo é uma estimativa para o longo prazo e em nenhum momento o fundo deixou de ter recursos ou precisou de aportes adicionais para honrar os benefícios. Agora, a Petros passa a usar a tábua atuarial mais conservadora, a T2000. Como o fundo é de benefício definido, ou seja, não pode reduzir o pagamento das aposentadorias, isso exigiria um aumento das contribuições também dos funcionários. No entanto, a Petrobras deve fazer uma proposta aos funcionários, de trocar o plano para o modelo de contribuição definida e, em contrapartida, não elevar o valor das contribuições mensais.