Título: Licitação do primeiro lote tem deságio de 14%
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2007, Brasil, p. A3

Um consórcio formado pelas empresas Serveng, Carioca e S.A. Paulista ganhou a licitação para o primeiro lote de obras civis da transposição do rio São Francisco. A proposta vencedora foi de R$ 238, 8 milhões, com um deságio de 14% em relação ao preço máximo estabelecido pelo Ministério da Integração Nacional, responsável pelo empreendimento. O contrato será assinado no dia 31 e o consórcio Águas do São Francisco poderá começar as obras, no Eixo Norte, em janeiro.

Até o fim de dezembro deverá sair ainda o resultado do segundo dos 14 lotes licitados. Será o lote 2, primeiro trecho do Eixo Leste, que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no município de Floresta (PE), e seguirá por 220 quilômetros até o rio Paraíba, após deixar parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Cinco consórcios disputam esse trecho: o primeiro é encabeçado pela construtora Santa Bárbara, o segundo é formado por OAS e Queiroz Galvão, o terceiro é o Águas do São Francisco, o quarto é da Camargo Corrêa e o último é das empresas Camter e Engesa.

Com esses dois contratos, a transposição do São Francisco entra em uma nova fase. Ontem, em café-da-manhã com jornalistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou interromper as obras por causa da greve de fome do bispo de Barra, Dom Luiz Cappio. À tarde, Lula reuniu-se com o ministro da Integração, Geddel Vieira Lima. Agora, as obras deixam de ser feitas apenas pelo Batalhão de Engenharia do Exército, que vinham adiantando trabalhos como terraplanagem e construção dos canais de aproximação, para passar também às mãos da iniciativa privada. Isso é fundamental se o governo quiser inaugurar até 2010, quando termina o mandato de Lula, pelo menos o Eixo Leste.

O lote 1, vencido pelo Águas do São Francisco em uma disputa que incluía a construtora Norberto Odebrecht, compreende serviços como os segmentos de canal, em uma extensão total de 39.128 metros, sistema de drenagem interna das seções dos canais, 12 tomadas d'água de uso difuso ao longo dos canais, pontes nos cruzamentos com estradas vicinais, entre outras ações.

O consórcio executará as obras civis de instalação, montagem, testes e comissionamento dos equipamentos mecânicos e elétricos. O Eixo Norte parte do município de Cabrobó (PE) e percorre cerca de 400 quilômetros em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Críticos do projeto de transposição reclamam principalmente desse eixo e dizem que mais de 80% do volume de água desviada abastecerá Fortaleza, focando no abastecimento para consumo industrial.

O projeto - com ambos os eixos - é orçado em cerca de R$ 4,5 bilhões. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, os contratos assinados já somam mais de R$ 600 milhões. Esse valor inclui a transferência de recursos para o Exército (R$ 140 milhões), a contratação de empresas para supervisionar as obras e para elaborar os projetos executivos de engenharia, que detalham aspectos técnicos do empreendimento. De acordo com o ministério, desse total, cerca de R$ 150 milhões já foram desembolsados.