Título: Produtores querem rolar dívidas
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Agronegócios, p. B8

Marcada pelos baixos preços das commodities, altos investimentos e câmbio desfavorável, a atual safra agrícola ressuscitou um fantasma que deve desaguar na primeira renegociação de dívidas rurais do governo Lula. Os maiores produtores de soja e algodão do país decidiram, semana passada, em Cuiabá (MT), exigir a rolagem das dívidas de investimentos deste ano para 2006 e a repactuação dos débitos dos programas de securitização e de saneamento de ativos (Pesa). Querem ainda uma linha especial para bancar a diferença entre preços de mercado e custos de produção. Numa reunião de seis horas, 700 produtores do Mato Grosso, além de Goiás e Mato Grosso do Sul, debateram formas e impedir um calote generalizado. Nessa briga, deve sobrar também para tradings, cerealistas e indústrias de defensivos, que financiam parte da safra. Os produtores - que na sexta-feira viram o contrato de março cair a US$ 4,995 por bushel em Chicago - querem renegociar empréstimos de "soja verde" e venda futura com os fornecedores. O presidente da recém-criada Associação de Produtores de Soja (Aprosoja-MT), José Rogério Salles, estima haver R$ 4 bilhões em dívidas dos últimos quatro anos. Durante a gestão FHC, os débitos foram renegociados três vezes. Entre Pesa e securitização, o governo rolou R$ 19 bilhões por até 25 anos. Homero Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Mato Grosso, calcula em R$ 1,6 bilhão as dívidas desta safra com investimento, empréstimos no setor privado e estoque da renegociação de 2001. "Investimos muito e agora temos que negociar", prega Eraí Maggi Scheffer, que planta 150 mil hectares em Sapezal. Os parceiros parecem entender o apelo. "As empresas têm a maior boa vontade porque houve um problema conjuntural", diz Fábio Trigueirinho, da Abiove. "Já tivemos crises maiores. Por isso, vamos negociar", reforça o gerente de Agronegócios do BB no estado, Olimpio Calixto. O governador de MT, Blairo Maggi (PPS), maior produtor mundial de soja, diz que não se trata de "calote", mas de um "problema coletivo". No dia 25, ele e seus colegas de Goiás, Marconi Perilo (PSDB), e de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, se reúnem com Antonio Palocci (Fazenda) e Roberto Rodrigues (Agricultura) para reforçar o coro dos produtores.