Título: Duarte confirma interferência política em sua demissão do IRB
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Finanças, p. C2

A disputa política afastou Lídio Duarte do comando do IRB Brasil Re, estatal que detém o monopólio do resseguro no país. "O PTB pediu meu cargo", disse Duarte por telefone na sexta-feira, dois dias depois de encaminhar sua carta de demissão por meio de um de seus principais assessores ao secretário executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. Ele se referia ao partido ao qual é ligado através do falecido presidente José Carlos Martinez, que o indicou para a presidência da estatal no início do governo Luis Inácio Lula da Silva. Em sua versão, confirmada por executivos (tanto do setor público quanto privado do mercado de seguros), membros do PTB começaram a pleitear o cargo junto ao presidente para outros afiliados, o que o deixou "desconfortável". Duarte disse que não sai magoado: "Faz parte, eu entendo o que o governo precisa. Sou funcionário de carreira, fui promovido e saio como entrei, fazendo meu trabalho técnico", afirmou. Economista, pós-graduado em finanças, Lídio Duarte é natural de Laguna (SC) e funcionário de carreira do IRB, onde ingressou em 1977. Passou por todos os cargos da hierarquia da empresa, inclusive o de membro do conselho técnico, até chegar à diretoria comercial, em 2000, e depois à presidência. No ano passado, Lídio Duarte promoveu uma reorganização administrativa para preparar o IRB para a abertura do mercado de resseguros à concorrência. A decisão sobre a abertura foi anunciada no final do ano pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Como parte das mudanças, o IRB adotou o sistema colegiado e criou os comitês consultivos, de investimentos e de segurança, com a participação de membros indicados pelas seguradoras, e também comitês internos com poder de decisão. Uma integração das áreas comercial e de subscrição de riscos (outra medida da reorganização) teria criado atritos de corretores de resseguros com o presidente do IRB, segundo observadores. Mas Duarte negou que houvesse qualquer problema com corretores. Segundo fontes do Ministério da Fazenda, a saída de Duarte não deve alterar a programação de abertura do mercado. O governo pretende enviar ao Congresso, nos próximos 60 dias, um projeto de lei complementar definindo como funcionará o mercado aberto de resseguros. A decisão final sobre a privatização ou não do IRB ainda não foi tomada, segundo essas fontes.