Título: Senadores acertaram ao derrubar CPMF, diz Garibaldi
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2007, Política, p. A8

Num balanço das atividades do Senado em 2007, feito pouco mais de uma semana depois de assumir o cargo, o presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN), considerou certa a decisão dos senadores de derrubar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). "O Senado acertou, porque votou em sintonia com a sociedade", disse.

Segundo Garibaldi, que integra um partido aliado do Palácio do Planalto, o governo foi derrotado por causa dos erros da articulação política e por não ter conseguido convencer a população da importância do imposto para o país. "O governo perdeu a batalha da comunicação e da articulação política", afirmou o pemedebista.

Ele disse que até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "reconhece que a articulação política precisa melhorar". Afirmou também ter ouvido isso do próprio ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais). É na tentativa de melhorar a relação com o Congresso, que o presidente e seus articuladores irão se reunir com as bancadas aliadas, avaliou Garibaldi. Acrescentou que, sem acordo com a oposição, a Desvinculação das Receitas da União (DRU) também teria sido derrubada.

A Secretaria Especial de Comunicação Social do Senado divulgou ontem pesquisa realizada pelo DataSenado, na qual 78% dos entrevistados disseram apoiar a rejeição da CPMF.

As entrevistas foram realizadas por telefone, nos dias 19 e 20 de dezembro, com 784 moradores de capitais brasileiras. Dos entrevistados, apenas 18% disseram discordar da votação do Senado, que derrubou a CPMF.

Para 51% dos entrevistados, o governo terá que economizar e cortar gastos para ajustar o Orçamento ao fim da CPMF.

Garibaldi avaliou que o governo não convenceu a população que a CPMF era imprescindível para o financiamento da área da saúde, da Previdência Social e do programa Bolsa Família. "Mas quantas pessoas tinham essa informação? E, mesmo os que tinham, duvidavam que o dinheiro estava sendo aplicado nessas áreas. Do jeito que as coisas foram conduzidas, (a votação da CPMF) foi uma derrota anunciada. Só o governo não percebeu", disse.

Garibaldi lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula mandou uma carta "tentando salvar a situação, mas já era tarde: "Inês já era morta", disse. "Os senadores não poderiam ter sido surpreendidos de madrugada", completou.

Eleito presidente do Senado no dia da votação da CPMF, coube a Garibaldi presidir a sessão, que terminou de madrugada, com a rejeição da contribuição e a manutenção da Desvinculação das Receitas da União. Garibaldi não votou, mas, se o fizesse, daria voto a favor da prorrogação. Mesmo assim, ele considera natural que a população rejeite o imposto.

"Ninguém paga CPMF feliz. O governo partiu para uma empreitada difícil", disse.

O presidente do Senado previu que será difícil o Congresso conseguir aprovar a reforma tributária no próximo ano.

Embora todos concordem com a necessidade da mudança do sistema, as divergências são grandes e aparecem na hora de votar. "Por isso, a reforma tributária tem que contar com o apoio da sociedade. Vejo dificuldades", disse.