Título: Adesão à renegociação argentina chega a 42%
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Finanças, p. C2

O governo argentino obteve até o fim da semana passada uma adesão de 42,3% à proposta de reestruturação de sua dívida em default. Os dados, que representam uma melhora importante em relação à semana anterior, foram fornecidos pelo Bank of New York, uma das instituições que assessora a Argentina na operação, e transmitidos ontem ao órgão regulador do sistema financeiro da Itália, país que concentra o maior número de pequenos investidores que possuem bônus em default fora do país. Os números tiveram uma boa repercussão no mercado local e a Bolsa de Buenos Aires fechou o dia com alta de 3,2%. No informe enviado às autoridades italianas na semana anterior, o governo argentino contabilizava uma adesão de 26,6%. Segundo as informações mais recentes, até a última sexta-feira, o valor nominal dos títulos que entraram na operação de troca alcançava US$ 34,65 bilhões, sobre um total de US$ 81,8 bilhões da dívida em default desde dezembro de 2001, sem contar os juros. Os dados superam a estimativa feita na noite de anteontem pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna, que havia dito que a adesão estava na casa dos 35%. Em entrevista à TV argentina, Lavagna também afirmou que não haverá prorrogação do prazo limite para aceitar a oferta, o dia 25 deste mês. Apesar da melhora na aceitação, ainda é cedo para usar os dados como indício de sucesso ou fracasso da reestruturação argentina. Estima-se que a maioria dos credores vai esperar até o último momento para definir se participa ou não da operação. O governo argentino aponta a cifra de 50% como patamar mínimo para considerar a reestruturação bem-sucedida, embora a estimativa seja considerada extremamente tímida pelo mercado. A maioria dos analistas diz que sem uma participação de pelo menos 70% dos credores a Argentina não conseguirá sair do default. Isso porque com uma adesão baixa o país deve enfrentar uma quantidade grande de processos judiciais e também deve ser pressionado pelo Fundo Monetário Internacional para melhorar a oferta. Na tentativa de mostrar aos credores que não haverá melhora na oferta, o governo mandou semana passada ao Congresso uma lei proibindo que a Argentina modifique sua proposta e vetando acordos privados com credores que decidam ficar de fora. O projeto já recebeu o aval do Senado e deve ser aprovado hoje na Câmara. Grupos de bonistas estrangeiros desqualificaram o uso do projeto como instrumento para pressioná-los, sob o argumento de que caso seja obrigado a melhorar a oferta, o governo argentino pode enviar aos parlamentares outra lei anulando a medida.