Título: Ações de bancos lideram alta na Bolsa
Autor: Altamiro Silva Junior e Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Finanças, p. C3

As ações dos bancos não param de subir. Rumores de que o Citibank vai comprar um banco aqui, lucros elevados, alta dos juros e aumento do crédito transformaram as ações do setor nas estrelas da bolsa. Só na última sexta-feira, as ações ordinárias (ON) do Bradesco subiram 9%; as preferenciais, 7%. No acumulado do ano, o papel ON do Unibanco disparou 55% e a PN do Itaú, 10%. No mesmo período, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), acumula queda de 1,8%. Os bancos já são o setor mais valioso da Bovespa. O valor de mercado do setor bateu no final de janeiro em R$ 133 bilhões, superando setores como mineração, telefonia e energia elétrica, segundo um levantamento da Economatica. O Itaú é a quarta empresa com maior valor de mercado da bolsa, valendo R$ 42 bilhões; o Bradesco vem em seguida, com R$ 28 bilhões. As ações dos bancos estão entre as principais apostas do Banif Investment Banking para este ano. Segundo Nami Neneas, diretor do banco, as projeções são de alta de, pelo menos, 40% para as ações até dezembro. Os bancos devem se beneficiar dos dois cenários previstos para 2005. No primeiro semestre, ganham com a alta dos juros. No segundo semestre, quando as taxas devem começar a cair, a perspectiva é que as instituições ganhem com o aumento mais acelerado do crédito. Uma das principais apostas é o Unibanco. O Banif projeta que a rentabilidade patrimonial da instituição alcance 20,3% no quarto trimestre, saindo dos tradicionais 16%. Para José Cataldo, analista de bancos da ABN AMRO Corretora, o cenário atual está bastante favorável para os bancos: economia em crescimento, ainda que em ritmo menos intenso que em 2004, aliado a juros elevados. Uma das principais recomendações da corretora é o Banco do Brasil, com potencial de valorização de 20,6%. O analista acha que o mercado exagerou na possibilidade de o Citi vir a comprar algum banco no Brasil apenas porque encheu o caixa com a venda da área de seguros para a Metlife, por US$ 11,5 bilhões, dos quais US$ 6 bilhões em dinheiro. "Sempre existiram esses rumores", diz. Para ele, o Citi teria caixa para adquirir um banco aqui, sem precisar do dinheiro "extra". Foto: Marisa Cauduro/Valor

Para Pedro Guimarães, do ING, o interesse dos estrangeiros é crescente

O analista do ING, Pedro Guimarães, concorda e lembra que o Citi teve um lucro de US$ 17 bilhões no ano passado e suas ações, que podem ser usadas para alavancar capital, são negociadas a 20 vezes o valor patrimonial. O analista acredita que os grandes bancos internacionais, como o Citigroup, HSBC e BBVA estão interessados no mercado brasileiro, atração que cresce à medida em que se multiplicam os sinais de que o país pode se tornar investment grade. "A diminuição do risco-país pode ser um catalisador do investimento estrangeiro da mesma forma que o Nafta impulsionou o México e a entrada na União Européia animou mercados do Leste europeu", disse. Outro sinal positivo, na sua avaliação, será a concretização da joint venture entre a Goldman Sachs e o Pactual - sinal de que um grande banco internacional está assumindo risco no mercado brasileiro. "Não são os bancos brasileiros que querem vender e sim os estrangeiros que querem comprar", afirmou. Para Guimarães, o Bradesco é a melhor opção de compra dos três maiores bancos privados para o estrangeiro que quiser conquistar uma posição significativa no varejo bancário brasileiro. O Bradesco, justificou, tem uma fatia de mercado de 17,6% em depósitos à vista e de poupança em comparação com 13,1% do Itaú e 4,3% do Unibanco. Por terem custo de captação mais baixo, Guimarães considera os depósitos à vista e de poupança bons indicadores para dimensionar o poder de fogo de um banco. Essa avaliação, divulgada a clientes já na quarta-feira, ajudou a impulsionar a forte alta dos papéis do banco, que já vinham embalado pelos bons resultados de 2004, pelas propostas de retorno de 22% a 24% neste ano e pela recompra de ações anunciada na semana. crescimento do lucro líquido. Mas, o ponto em que os investidores mais se fixaram foi a lembrança de que o Bradesco dá aos minoritários com ações ordinárias o direito de receber 100% do preço pago em uma venda de controle ("tag along"); e aos donos de papéis preferenciais, 80%. Apesar da alta das ações ter puxado o valor de mercado dos bancos brasileiros, Guimarães acredita que ainda há potencial de valorização. Tomando como base um preço de pouco mais de US$ 1 bilhão por cada ponto percentual de fatia de mercado, Guimarães calcula o valor do Bradesco em US$ 18,6 bilhões; o do Itaú, em US$ 13,8 bilhões; e o do Unibanco, em US$ 4,5 bilhões. Para quem acha esses números salgados, Guimarães lembra que o Citi e o HSBC pagaram preços elevados pelos bancos mexicanos. O Citi pagou cerca de US$ 13 bilhões pelo Banamex, que hoje representa 12% do seu resultado global.