Título: Garotinho e Cunha não se calam
Autor: Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 29/01/2011, Política, p. 8

O ex-governador do Rio e o deputado ameaçam divulgar fraudes em gestão que fizeram juntos

A troca de acusações no Twitter entre o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-governador do Rio de Janeiro e deputado eleito Anthony Garotinho (PR) ¿ antigos aliados ¿ foi a atração política de ontem no ambiente virtual. A discussão entre os dois, que não têm juntos mais que 50 mil seguidores (Cunha tem menos de 400) no microblog, gerou piadas entre os membros da rede. Tudo começou depois da publicação de matéria sobre uma suposta influência de Cunha sobre a estatal Furnas. Via Twitter, Cunha se defendeu, atacou o PT e antigos aliados, e ameaçou detalhar todas as reuniões que teve com Garotinho quando ainda era seu parceiro de governo fluminense, no fim dos anos 1990.

Para não deixar barato, ainda pela manhã, o ex-governador do Rio postou: ¿Por que não te calas, Eduardo?¿ e disse que o deputado poderia detalhar as reuniões que teve com ele sem problema. ¿Pois bem, faço um desafio, conte. E aproveite para contar com quem se reunia e o que fazia após essas reuniões. Acho bom o deputado ficar bem quietinho respondendo às acusações que lhe são feitas, senão sua casa (Cehab ¿ Companhia Estadual de Habitação do Estado do Rio) pode desabar antes do tempo¿, emendou.

Essa foi a senha para que Cunha publicasse várias mensagens acusando Garotinho durante todo o dia. Frases como ¿Garotinho é caso de polícia e não de política¿ e ¿Quem está condenado criminalmente com pena de dois anos e meio por ser chefe de quadrilha é você¿ foram disparadas. O deputado chegou a desafiar Garotinho a fazer uma entrevista coletiva com ele, argumentando que a Cehab ¿era de Garotinho¿, pois ele era o governador.

Pouco depois de uma hora, Garotinho respondeu por meio da nota ¿Prece e os pecados do deputado que não se cala.¿ ¿Assim que eu tomar posse, como deputado federal, no próximo dia 1º, o convido para um debate mais amplo, na tribuna da Câmara dos Deputados. O desafio está aceito. O local está definido.¿ Ele ainda aproveitou a deixa e soltou: ¿Que Eduardo não se esqueça que existem graves documentos (MP ¿ Ministério Público), onde seu nome consta em situações delicadíssimas, envolvendo inclusive promotores que podem perder o cargo¿.

No fim da tarde, Cunha rebateu e deu o golpe conclusivo para ¿encerrar a polêmica¿. No texto ¿Resposta a Garotinho: a pior aliança que realizei em toda a minha trajetória política foi com esse cidadão, cujo nome é um plágio de um apresentador de rádio¿, o parlamentar concluiu dizendo que ¿não perderei mais tempo com ele e não o ajudarei a sair das páginas policiais para as páginas políticas, mesmo com toda a `prece¿ que ele fez¿.

Ao ser informado pela reportagem a respeito do teor da nota final de Cunha, Garotinho sorriu e disse que responderia em breve. Foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, veio com a cartada final: ¿Sai da lama, Eduardo¿: ¿Embora sabendo que o deputado gosta muito de laranja, recomendo que, neste momento, tome um suco de maracujá e sobrevoe o patrimônio que construiu praticando um esporte que ele gosta muito: Asa Delta¿. O Delta, grafado em letra maiúscula, fazia referência à empreiteira que toca várias obras federais. Cunha disse à reportagem do Correio que não responderia a ilações sobre a Delta.

Briga dura sete meses

Antes do bate-boca, os dois políticos evangélicos que já foram grandes aliados ¿ enquanto Garotinho era governador do Rio, Cunha era o presidente da Companhia Estadual de Habitação do Estado (Cehab) em 1999 e 2000 ¿ já não se falavam há pelo menos sete meses. De acordo com Cunha, a relação pessoal foi cortada em maio de 2010, quando um programa de Garotinho na Rádio Melodia saiu do ar.

¿Após esse episódio, ele fez acusações pesadas contra a esposa do governador, das quais não concordei. Achei uma baixaria muito grande. Desde então, não o cumprimento. Se eu o vir na Câmara, vou fazer o mesmo que já faço sempre que o encontro: virar a cara¿, diz. No entanto, Cunha ressalta que as relações políticas foram abaladas ainda em 2006. ¿Ele patrocinou a candidatura de um deputado e acabava invadindo a base dos outros candidatos para tirar votos. Ali cortei minhas relações políticas, mas continuei com a relação pessoal¿, disse.

Garotinho também acredita que o caso da Rádio Melodia foi o estopim. Mas a versão do futuro deputado federal é diferente. ¿A rádio fez uma campanha raivosa contra mim, apoiada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral. E quem manda por lá é o Eduardo Cunha.¿ Ele conta que passou por outra situação extremamente desconfortável neste ano. ¿Entrei em um elevador na Câmara com Cunha e ficamos olhando para as paredes¿, contou. (LK)