Título: EUA não sabotam expansão brasileira
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2007, Finanças, p. C5

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, traçou um cenário róseo para a economia em 2008, ao ser questionado sobre impactos no Brasil de um eventual agravamento da crise americana. "O Brasil vai crescer a taxas robustas também em 2008", disse, sem citar percentuais, após seu depoimento trimestral na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. "Será um Ano Novo repleto de esperanças para o povo brasileiro."

Para Meirelles, já há uma restrição de crédito nos EUA, e não apenas um empoçamento de liquidez, como economistas privados acreditavam até recentemente. Os bancos assumiram em balanço perdas em operações de crédito imobiliário, reduzindo a disponibilidade de capital para lastrear nos empréstimos. "O aperto do crédito poderá gerar uma recessão nos EUA", afirmou, lembrando que alguns analistas econômicos estão atribuindo riscos entre 30% e 50% de uma recessão americana.

Ele ponderou, porém, que os efeitos de uma desaceleração na economia americana seriam bem menores do que no passado, já que o crescimento mundial é hoje bem menos dependente dos EUA. "Os países asiáticos respondem por cerca de metade do crescimento mundial", assinalou. "Embora a soma das economias asiáticas seja menor do que a americana, o crescimento dos asiáticos é bem maior do que o americano, por isso sua contribuição para o crescimento mundial é significativa."

O presidente do BC reconheceu que, em parte, o crescimento das economias asiáticas é dependente de exportações, dirigidas sobretudo para os EUA. Também admitiu que uma crise mais forte nos mercados de capitais americanos afetaria as condições de liquidez internacionais. Mas ponderou, por outro lado, que o crescimento das economias da Ásia é hoje um pouco mais dependente dos próprios mercados internos - caso de Malásia e Cingapura e, em menor escala, da China.

Meirelles disse que o BC brasileiro não faz prognósticos sobre o crescimento de economias de outros países, mas ele lembrou que o cenário dominante é que uma desaceleração moderada da economia americana subtraia 0,4 ponto percentual do crescimento mundial estimado para 2008 pelo Fundo Monetário Internacional, de 4,8%. Uma recessão mais severa nos EUA poderia ter impactos entre 1,5 e 2 pontos percentuais.

O Brasil, argumentou Meirelles, é hoje menos dependente da economia americana. Ele lembrou que, no período de 12 meses encerrados em novembro, os Estados Unidos representavam apenas 15,6% das exportações brasileiras. É uma fatia menor do que a da União Européia (24,9%), América Latina (22,6%) e Ásia (15,6%). "Além disso, o crescimento da economia brasileira é ancorado pela demanda doméstica", afirmou..

O presidente do BC assinalou que o consumo das famílias cresce a uma taxa robusta (6% no terceiro trimestre de 2007, comparado ao mesmo período do ano anterior), assim como os investimentos (14,4%). Meirelles lembrou que fatores que puxam a demanda doméstica ainda estarão presentes em 2008, incluindo os estímulos monetários, já que os cortes na taxa básica agem com defasagem de alguns trimestre sobre a atividade econômica. O aumento do emprego, expansão da renda e estímulos fiscais também contribuiriam para puxar a demanda em 2008.

O presidente do BC disse não estar preocupado com a rejeição da CPMF pelo Senado. Do ponto de vista da política monetária, o essencial é que o governo mantenha a meta de superávit primário.