Título: Estados ricos devem puxar massa salarial em 2007
Autor: Bouças , Cibelle ; Salgado , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2007, Brasil, p. A6

Neste fim de 2007, há um volume extra de aproximadamente R$ 3,8 bilhões circulando mensalmente nas mão dos assalariados do setor formal da economia brasileira. Esse volume de recursos se juntou aos R$ 7,3 bilhões gerados nos anos de 2005 e 2006 (segundo a Relação Anual de Informações Sociais-RAIS) e fez a massa salarial do país crescer 30% em termos reais nos últimos três anos.

Nos primeiros dois anos desse crescimento expressivo da massa de salários, os Estados mais pobres do país ficaram - proporcionalmente - com uma parcela maior desse ganho. Em 2007, contudo, essa equação foi invertida e os Estados mais industrializados e de economia mais desenvolvida lideram o aumento estimado de 9% da massa salarial.

Em 2005 e 2006, o aumento acumulado da massa salarial soma 20,6%, mas no Norte a alta foi de 28%, no Nordeste de 30% e no Centro-Oeste, de 26%, enquanto na região Sudeste o crescimento foi de 18%. A liderança das regiões mais pobres se explica pelos aumentos mais expressivos do salário mínimo naqueles dois anos, de 8% e 13%, respectivamente.

No conjunto do Brasil, em 2006, emprego e salário real participaram igualmente da composição da massa de salários. Para 2007, a expectativa é que o emprego no setor privado comande a alta deste indicador. Por isso, a liderança pode vir para o Sudeste. Até outubro, o emprego formal nessa região cresceu 7,10% frente a uma média nacional de 6,5% e uma "lanterninha" da região Nordeste, com 4,8%.

O menor reajuste real no salário mínimo (de 5,3% ante 13% no ano passado) e a maior pressão da inflação (especialmente nos preços dos alimentos, que pesam bastante no orçamento do brasileiro) tiraram um pouco a força dos salários e especialmente dos menores rendimentos em cuja cesta de consumo o peso da alimentação é maior. Ao mesmo tempo, o aquecimento da economia e incremento da produção industrial levaram ao aumento da demanda por mão-de-obra, principalmente a mais qualificada e de melhor remuneração.

Este cenário, no qual a inflação e o salário mínimo têm menor influência na massa salarial, faz com que o crescimento desse indicador seja mais homogêneo entre os Estados brasileiros. "No ano passado, os Estados mais pobres foram os que tiveram os maiores incrementos de massa, porque neles muitos trabalhadores ganham o mínimo", explica Sergio Vale, da MB Associados. Agora, com a maior participação do emprego no incremento da massa e com uma força maior da indústria, Estados como São Paulo, tendem a apresentar melhores resultados. As regiões Norte e Nordeste continuam com os melhores resultados, mas a discrepância em relação às outras regiões do país tende a diminuir.

Os dados preliminares de massa salarial já indicam isso. A projeção feita com base no resultado do saldo de empregos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) até outubro deste ano e com uma expectativa de aumento real do salário de 2,5%, mostra que até agora a massa salarial em São Paulo já avançou 10,8%, acima da média do Brasil, que está em 9%. Esses números levam em conta apenas os empregados com carteira assinada no setor privado. Provavelmente serão maiores quando forem incluídos os estatutários.

Para Vale, a demanda por mão-de-obra qualificada também tem ajudado os Estados mais ricos. "Montadoras, petroquímicas, construção civil são ramos que não podem crescer apenas apoiados na contratação de trabalhadores com baixa qualificação, que, na grande maioria, ganham salário mínimo", afirma o economista da MB Associados.

O economista da LCA Consultores Fábio Romão faz uma avaliação parecida com a de Vale. Para ele, no ano passado, os Estados cujos mercados de trabalho têm grande participação do setor público tiveram bons desempenhos de salário e massa salarial. Já para 2007, sua aposta é de que serão privilegiados os Estados que têm um peso grande do setor privado na quantidade de empregos formais, "já que a economia está em ritmo vigoroso e demandando mais mão-de-obra", argumenta.

No Tocantins, por exemplo, a massa salarial teve um incremento de 21,3% em 2006, resultado da alta de 9,9% do emprego e de 10,4% do salário médio, que passou a valer R$ 1.017, abaixo do salário médio apurado no país, que é de R$ 1.209, em valores de setembro deste ano. Nesse Estado, nada menos do que 55% dos empregados com carteira assinada estão no setor público.

Na média, a região Sudeste registrou o menor crescimento na massa salarial no ano passado (10%), com variações por Estados entre 9% e 15,3%. O Estado de São Paulo apresentou a menor evolução na massa real de salários em 2006, com crescimento de 9% em relação a 2005, frente a uma média nacional de 11,5%. O aumento representou uma injeção de R$ 482 milhões na massa salarial paulista.

O crescimento é resultado da criação de novos postos de trabalho com carteira assinada, que tiveram uma expansão de 5,7% no período, e da valorização de 3,1% na média salarial, que subiu para R$ 1.323,38. No período, o número de empregados celetistas aumentou 6,3%, diante de um crescimento de 0,9% no número de estatutários. Mesmo com o crescimento, os celetistas continuaram representando 81,2% do total da massa salarial no Estado.

"Na verdade o que ocorreu no Estado foi uma transferência de renda do setor informal para o formal. O aumento da massa salarial não significa necessariamente aumento de renda", afirma Guilherme Afif Domingos, secretário de Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo.

Afif observa que o aumento no número de novos postos de trabalho deve-se principalmente ao aquecimento nos mercados de construção civil e serviços domésticos. "As empresas estão empregando mais em setores de mais baixos salários, o que achata a renda média, mas gera aumento na massa salarial", diz Domingos, que espera para o ano de 2008 uma manutenção do quadro atual, com tímido crescimento na massa salarial.

A região Sul registrou, no ano passado, um crescimento na massa salarial de 11%, muito próxima à média nacional. Como na região Sudeste, o conjunto dos rendimentos na região Sul também é composto em sua maioria pelo setor privado e, no último ano, a sua participação cresceu 7,7 pontos percentuais, passando de 72,9% para 80,6%.

No Sul, o aumento da massa salarial total mais significativo foi registrado em Santa Catarina, de 14,2%, seguido pelo do Paraná, com 11,6%. O crescimento da massa de celetistas foi de 12% e 8,4%, respectivamente. O segundo pior resultado do país foi o do Rio Grande do Sul, que teve aumento de 9,4% na massa salarial, com melhora de 5,4% no salário médio, que foi para R$ 1.198,23, e de 3,8% no número de postos de trabalho.