Título: Nasdaq espera atrair ações de brasileiras com Bovespa forte
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2007, Empresas, p. B3

Jeffrey Singer está otimista. Na condição de vice-presidente para América Latina da Nasdaq, discorre com entusiasmo sobre a ressurreição do mercado de capitais brasileiro. O executivo avalia que os bons ventos que arejaram a Bovespa nos últimos anos chegarão ao Atlântico Norte. É apenas questão de tempo.

O número recorde de ofertas iniciais na bolsa paulista atraiu o interesse de investidores estrangeiros e reduziu quase a zero o número de emissões de companhias brasileiras nos Estados Unidos - o que pode dar a impressão de que se criou uma concorrência entre os mercados. Mas não há bola dividida, garante o executivo americano. Ao contrário.

"Quando o mercado local se fortalece, o mesmo acontece com o mercado internacional", afirma Singers, que também é o executivo da Nasdaq responsável por Europa, Oriente Médio, África e Canadá. "Tudo começa com uma bolsa local forte e a economia melhorando."

A expectativa é de que muitas das companhias que hoje estão desembarcando na Bovespa procurem fontes de captação de recursos no exterior daqui a alguns anos. "É o que percebemos que acontece normalmente em outros mercados", diz.

Um exemplo? O mais óbvio de todos: as empresas da China. O fortalecimento das bolsas desse país - que hoje são acompanhadas com atenção por investidores do mundo todo - não impediu que o "socialismo de mercado" mostrasse sua cara na meca do capitalismo.

Existem atualmente 52 companhias chinesas listadas nos mercados principais da Nasdaq, sendo que a maioria delas aterrissou por lá neste ano.

Difícil prever quanto tempo levará, mas é natural supor que o mesmo caminho será trilhado pelas empresas brasileiras e de outros mercados em ascensão, como Rússia, Índia e Argentina.

"Não há um prazo definido, cada empresa vai se mover no seu ritmo. Cada uma tem sua estratégia", observa Singer. Segundo ele, quando chegar o momento de diversificar sua base de investidores e de clientes, as companhias deverão buscar alternativas nas bolsas internacionais.

Se o mercado brasileiro continuar mostrando-se robusto, Singer não descarta a possibilidade de a Nasdaq reabrir o escritório que manteve até alguns anos atrás em São Paulo. Hoje, a bolsa eletrônica tem um representante comercial para o Brasil, mas ele vive em Nova York.

Na Nasdaq, por enquanto, a única companhia brasileira listada é a a operadora de TV, internet e telefonia Net Serviços - cuja diretoria abriu o pregão da bolsa na terça-feira da semana passada para celebrar os 11 anos de suas ações negociadas por lá.

O que tem despertado o interesse das brasileiras é um mercado secundário da Nasdaq chamado de "Portal Market", que foi criado em 1999, passou alguns anos no limbo e só foi reativado em 2007. Trata-se de um ambiente de negociações exclusivo para investidores institucionais e amparado na regra 144-A da Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos).

As captações via 144-A são feitas por meio de ofertas privadas e dispensam registro na SEC, o que as torna uma opção mais barata para as empresas emissoras. É uma alternativa que cresceu de importância frente aos custos elevados e às obrigações pesadas impostas pela lei Sarbanes-Oxley às companhias que têm papéis listados nas bolsas americanas.

O Brasil tem 27 empresas negociadas no "Portal Market" e tem se mostrado, ao lado da Rússia, um dos países mais ativos nesse segmento, diz Singer.

Até agora, as ofertas de ações no Brasil e as emissões de ADRs (sigla em inglês que identifica os recibos de ações negociados no mercado americano) estão trilhando caminhos opostos.

Somente neste ano, a Bovespa abrigou 67 ofertas primárias. A maioria delas foi de estreantes na bolsa e de empresas que, até pouco anos atrás, não teriam a menor possibilidade de levantar dinheiro dessa maneira.

Por outro lado, minguaram as emissões de ADRs, tão características dos anos 90 e do início dos 2000. O caso mais recente de empresa brasileira que foi lançar papéis no exterior é o da Cosan. Porém, não foi por meio dos recibos que a empresa acessou o mercado: ela fez uma oferta de ações diretamente na Bolsa de Nova York.

"Mantemos conversas com a Bovespa e elogiamos muito a iniciativa do Novo Mercado", afirma o executivo da Nasdaq.

Indagado se a Nasdaq teria interesse em uma associação com as bolsas brasileiras - especialmente a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) -, Singer diz apenas que não comenta o assunto. Tampouco revela se a bolsa americana está à procura de negócios na América Latina. "O que eu posso dizer é que ficamos orgulhosos em ver que a Bovespa foi tão bem [em sua oferta inicial de ações] e que a BM&F seja tão bem-sucedida quanto."