Título: Genoino quer estatuto com maior controle sobre sigla
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Política, p. A5

Dado como favorito para se reeeleger presidente do PT nas eleições diretas de setembro deste ano até pelos seus adversários, José Genoino Neto afirma que a revisão do programa e do estatuto do partido deverão marcar o encontro nacional, que acontecerá em dezembro. "O programa do PT era genérico e nós vamos atualizá-lo", afirmou. No programa original do partido, há declarações de princípios como: "O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados e nem exploradores". No novo programa, Genoino quer ver um tom desenvolvimentista. "Assim como o PSDB teve como missão histórica viabilizar a estabilidade econômica no Brasil, a nossa missão histórica é viabilizar o crescimento", disse. Mais ênfase ainda o dirigente petista dá à reforma do estatuto. Genoino pretende incentivar uma mudança que reforce o controle das instâncias partidárias sobre os filiados, para impedir gestos como o do deputado Virgílio Guimarães (MG), que lançou-se como candidato avulso à presidência da Câmara, enfrentando o candidato oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). "Cresceu o interesse de determinadas pessoas em desenvolver suas carreiras individuais, em detrimento de fazer uma disputa de idéias. Vamos resgatar o caráter anti-personalista do partido", disse Genoino. Em artigo divulgado na página do partido na Internet, o dirigente deixou ainda mais claro o tipo de mudança que pretende fazer. "Todas as regras atinentes aos direitos e deveres partidários, à liberdade e à disciplina emanam do estatuto do partido. Desta forma, a disciplina é uma função própria do partido. Por isto, o estatuto pode e deve conter sanções disciplinares". Os petistas críticos ao governo federal estão acuados. Perdem espaço a cada processo de disputa interna, desde 1995. Este ano, tentam se articular em uma chapa única para marcar posição. "O objetivo é debater a insatisfação da base do PT com o brutal conservadorismo da política econômica. Estamos há quase quatro anos sem um debate público", diz o deputado Ivan Valente (SP), da corrente Força Socialista. As regras da eleição direta obrigam a que as chapas debatam suas teses em reuniões prévias em todos os Estados. Mas a discussão termina aí. Depois da eleição das novas direções, em setembro, o encontro nacional do partido apenas referenda as posições da chapa vencedora. "Os encontros deixaram de ser um espaço de debate. É uma violência à democracia interna. Mas para aplicar o programa do Palocci tinha mesmo que desmobilizar a base partidária. É a lógica do vale tudo para a reeleição do Lula a qualquer custo", afirma o parlamentar. Em resposta, Genoino diz que a eleição direta representa exatamente o oposto do que os radicais acusam. Mas admite que a inovação reduziu a necessidade de negociar por parte do campo majoritário. "No processo antigo, a escolha das chapas se misturava com a questão programática e havia muitas concessões para a eleição do comando partidário", afirma. A eleição de setembro irá renovar também as direções estaduais e municipais e devem sinalizar quais serão os candidatos petistas aos governos dos Estados no ano seguinte. (CF)