Título: PT dobra filiações em dois anos de Lula
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Política, p. A5

Nascido no dia 10 de fevereiro de 1980 como o menor dos cinco partidos autorizados a funcionar pelo regime militar, o PT comemora amanhã seus 25 anos de existência com a estatura de um gigante, desde que passou a controlar o governo federal. Segundo dados da própria sigla, em 10 de março de 2003, 70 dias após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, o partido terminou o seu recadastramento registrando 401.103 filiados. Em 21 de setembro de 2004, final do prazo de filiação para participar da eleição direta da cúpula da sigla, o PT contava com 810.118 integrantes. O crescimento não mudou a distribuição regional do partido. Proporcionalmente, o PT é grande nos Estados em que atualmente governa, como Mato Grosso do Sul e Acre, ou onde já governou, como Distrito Federal e Rio Grande do Sul. Em termos absolutos, São Paulo concentra um quarto da militância petista. Em 2001, quando o partido fez a sua primeira eleição direta para a renovação das direções e deu o início para o processo de recadastramento, o cenário já era esse. O impressionante é a evolução exponencial do total global de filiados. Na fase de maior expansão, entre março de 2003 e março de 2004, o crescimento foi de 53,8%. Depois de setembro, os novos ingressos não pararam. A estimativa é que outros 30 mil eleitores entraram no PT entre setembro e janeiro, estando ainda sem o direito de participar das votações internas. Segundo o secretário nacional de Organização da sigla, Gleber Naime, o crescimento não foi desordenado. "Mais da metade dos novos filiados são de antigos militantes que retornaram ao partido", sustenta. O presidente nacional do partido, José Genoino Neto, também garante que o partido ganhou musculatura, e não inchaço. Foto: Pio Figueroa/Valor - 3/6/2003

Genoino defende-se da acusação de que o poder inchou a sigla no seu aniversário de 25 anos: "O PT continua sem ruralistas e concentrado nos grandes centros urbanos"

"Basta ver o perfil dos candidatos a prefeito e vereador em 2004. O tempo médio de filiação era de dez anos para prefeito e de quatro anos para vereador. Foram poucas as filiações políticas", afirmou. Entre os eleitos, houve pelo menos dois casos que destoam desta regra. O prefeito de Palmas, Raul Filho, é um egresso do PPS e já passou pelo PMDB. O de Macapá, João Henrique Pimentel, que esteve preso logo após ser reeleito sob acusação de corrupção, veio do PSB. Segundo Genoino, sequer o perfil social do integrante mudou. "O PT continua um partido sem ruralistas. Estamos concentrados nos grandes centros urbanos", resume. Contrária ao processo de eleição direta para a escolha da direção desde o início, a ala radical do partido afirma que o PT está em avançada descaracterização. "Há um processo degenerativo no partido, com as máquinas administrativas agindo e as filiações acontecendo 'sem batismo'", disse o deputado Ivan Valente (PT-SP), para quem a depuração feita pelo recadastramento realizado entre 2001 e 2003 piorou as coisas. "O recadastramento excluiu muitos militantes autênticos e há setores do PT que profissionalizaram, no mal sentido da expressão, a arregimentação de novos filiados", acusou o parlamentar. Antes da eleição direta de setembro de 2001, o número de filiados habilitados a votar no PT era até maior do que hoje. Mas o colégio eleitoral de 851 mil filiados há quatro anos era enganoso, e um dos objetivos que levou à criação da consulta direta à militância era exatamente ter a medida de qual era o tamanho verdadeiro do partido. Até então, nunca havia sido feito um recadastramento de todos os filiados e constavam como petistas ativos pessoas que já haviam morrido, trocado de partido ou se desinteressado da vida política. A cúpula petista esperava que apenas 300 mil integrantes aparecessem para votar na eleição interna passada. Mas o quórum foi de 227 mil comparecimentos, abaixo das expectativas mais pessimistas. A partir do registro dos filiados que compareceram para votar na disputa de 2001, foi iniciada a nova contagem dos integrantes. Na Justiça Eleitoral, os números petistas continuam desatualizados e o partido aparece maior do que de fato é, com 989 mil integrantes. Como nenhum outro partido fez um recadastramento, a distorção fica evidente no registro da militância de todas as legendas. De acordo com os dados do TSE, os partidos com mais filiados no Brasil são os mais antigos, o PMDB e o PP, herdeiros dos extintos MDB e Arena. O primeiro registra 2,079 milhões de filiados e o PP 1,316 milhão. Criado em 1988, o cadastro do PSDB está menos desatualizado e registra a exigência de 1,114 milhão de filiados. Pelos números da Justiça Eleitoral, o quarto maior partido do país é o PFL (fundado em 1985), com 1,057 milhão, o quinto é o PTB (de 1980), com 1,020 milhão. Praticamente empatado com o PT vêm o PDT, com 985 mil oficialmente filiados.