Título: Fundo não é ameaça fiscal, diz Dilma
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2007, Finanças, p. C2

O capital do fundo soberano brasileiro deverá ser pequeno e não ameaçará a estabilidade fiscal. A garantia é da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Ela explica que o objetivo é incentivar pequenas e médias empresas a investirem em países da América Latina ou da África. As grandes companhias não precisam desse apoio, porque conseguem captar recursos a juros baixos no mercado financeiro.

Conforme a ministra, a gestão dos fundos soberanos em vários países - notadamente China e Países Árabes - é estratégica. O desejo do governo também é que a utilização desses recursos para a internacionalização das empresas brasileiras siga as diretrizes da política externa. Os recursos poderão ser utilizados para financiar aquisições ou construção de fábricas no exterior.

"Existem estratégias empresarial e política conjugadas", explicou Dilma, na sexta-feira, em São Paulo, durante o seminário "Consolidação Regional e Expansão Global das Empresas Multinacionais Latino-Americanas", organizado pela Fundação Dom Cabral, com apoio do Valor. "É estratégia empresarial, porque contribui para o crescimento das empresas nacionais. E é política externa, porque as empresas consideram os objetivos nacionais", afirmou.

Ela citou o exemplo da China, que investe na África para assegurar o fornecimento de combustíveis e minerais. Para a ministra, a presença brasileira na África também cresceu, buscando um contraponto. "Afinal de contas, é mais natural uma relação brasileira com a cultura africana do que para o chinês", disse. "Nada contra os chineses, que são importantes no cenário internacional, mas compõem outra cultura". Para Dilma, a política externa do Itamaraty está "extremamente correta".

Ainda em fase de estudo dentro do governo, os fundos soberanos seriam compostos por reservas adquiridas pelo Tesouro no mercado financeiro, aproveitando o superávit das transações correntes. Esses recursos seriam transferidos para o BNDES para serem aplicados no financiamento da internacionalização das companhias brasileiras.

A chefe da Casa Civil ressaltou que os principais objetivos dos fundos soberanos dos países emergentes são estabilização fiscal, preservação da riqueza para necessidades futuras e financiamento de investimento direto no exterior. Graças a contribuição dos países árabes e da China, o capital dos fundos soberanos supera US$ 3 trilhões - o dobro dos hedge funds com US$ 1,5 trilhão e o triplo dos fundos de private equity com US$ 1 trilhão.

Estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que o capital dos fundos soberanos pode chegar a US$ 12 trilhões em cinco anos. Es te fôlego é resultado do crescimento das reservas, derivadas dos excedentes de petróleo, do aumento do preço das commodities, e das transações correntes em geral.

Dilma negou que as empresas brasileiras estejam abrindo fábricas no exterior, porque perderam competitividade por conta do câmbio. "O real forte facilita, porque barateia o custo dos ativos, mas o processo de internacionalização da economia brasileira se deve às nossas próprias forças".