Título: Preço de energia térmica deixa mercado apreensivo
Autor: Schüffner , Cláudia ; Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2007, Brasil, p. A2

O mercado ainda aguarda a divulgação de uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) explicitando as condições para geração de energia emergencial no Nordeste e como será rateado o custo adicional - ou custo marginal de operação, na linguagem técnica - que o acionamento dessas usinas vai gerar.

O que ainda não é conhecido é se o preço da energia dessas usinas será contabilizado no chamado mercado "spot", de curto prazo, ou não. Se for no "spot", o custo só aumenta para os chamados consumidores livres (grandes). Se for rateado, como quer o governo, o custo vai aumentar para todos.

Começou neste domingo, ainda em caráter de teste, o acionamento das termelétricas a óleo do Nordeste para preservar o nível de água do reservatório de Sobradinho, na Bahia. Ele é responsável pelo armazenamento de 60% da energia hidrelétrica da região, que chegou a um nível preocupante no começo deste mês, abaixo de 13% da capacidade. Foi acionada a usina de Camaçari, na Bahia, gerando 76 megawatts. A intenção do governo é de gerar até 600 megawatts de energia térmica a óleo a partir de amanhã.

O Ministério de Minas e Energia (MME) já adiantou que o valor será rateado entre o conjunto dos consumidores. Será como a criação de uma espécie de Conta de Combustível a Compensar (CCC) para o Nordeste. A CCC existe hoje para permitir, sem custos exagerados para os consumidores locais, rodar as térmicas a óleo que alimentam os sistemas isolados que geram energia para abastecer cidades do Norte do país, como Manaus.

Segundo o Valor apurou, a necessidade de uma resolução do CNPE deve-se ao fato de as térmicas estarem sendo acionadas antes de ser atingido o limite mínimo de armazenamento hídrico no Nordeste. Tecnicamente, isso está sendo feito antes de ser alcançado o ponto mínimo previsto na curva de aversão a risco para a região, que é de 10% da capacidade de armazenamento de água em todos os reservatórios do rio São Francisco no dia 31 de dezembro. Atualmente, apesar de Sobradinho estar com 12,7%, o conjunto dos reservatórios ainda tem 26,7% de água.

A decisão de acionar as térmicas a óleo diesel foi tomada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) na semana passada. O CMSE determinou o acionamento de pelo menos quatro usinas movidas a óleo no Nordeste. A iniciativa, divulgada de forma discreta pelo governo, indica preocupação com o suprimento de energia elétrica no momento em que a Petrobras está impedida de aumentar a oferta de gás natural para geração térmica no Sudeste. Parte do problema decorre de uma liminar, obtida pelas distribuidoras Ceg e Ceg-Rio, que proíbe a Petrobras de cortar o suprimento para as duas companhias, que consomem cerca de 7,5 milhões de metros cúbicos/dia de gás.

A energia que as térmicas a óleo irão gerar vai complementar a transferência de geração que está crescentemente sendo feita das regiões Sudeste e Centro-Oeste, permitindo que os reservatórios nordestinos, especialmente Sobradinho, sejam preservados até que a estação chuvosa, já iniciada no papel, chegue de fato às áreas que alimentam o reservatório baiano.