Título: Bloco reforça apoio à entrada da Venezuela
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2007, Brasil, p. A4

Os chanceleres e ministros de economia dos países do Mercosul reforçaram o discurso de apoio à entrada da Venezuela no bloco, que ainda está pendente de aprovação pelos congressos do Brasil e do Paraguai. Hoje, durante a reunião dos presidentes do Mercosul que se realiza em Montevidéu, os governos devem divulgar uma nota oficial acertada ontem, pedindo aos políticos mais rapidez na aprovação do pedido de entrada da Venezuela.

O presidente da Comissão de Representantes Permanentes do bloco, o argentino Carlos "Chacho" Alvarez, foi o primeiro a defender a incorporação da Venezuela, dizendo que "complementa a equação entre alimentos, energia e indústria" na região. O chanceler venezuelano, Nicolas Maduro, comemorava: "Saudamos como muito positivo o comunicado que o Mercosul emitiu, de apoio à Venezuela na vontade política de ingressar no Mercosul. Este comunicado representa muito para nós porque esse processo de entrada não tem sido fácil. Estivemos mais de 170 anos separados, de costas, hoje estamos de frente".

No primeiro dia da reunião de cúpula, os funcionários de primeiro escalão se esforçavam para demonstrar a coesão do bloco, criticado pela falta de avanços em questões como a redução das assimetrias e criação de uma verdadeira união aduaneira. No entanto, o único avanço prático a ser anunciado será a assinatura do Tratado de Livre Comércio (TLC) Mercosul-Israel. O TLC torna livre de barreiras a totalidade dos produtos comercializados entre os países em um prazo de dez anos.

O ministro de relações exteriores da Argentina, Jorge Taiana, disse que o Mercosul é "um sucesso" como bloco e que estava "otimista" em continuar avançando, "apesar das dificuldades que se apresentam em toda política de integração regional".

Um dos pontos de atrito foi definitivamente afastado, não por obra dos ministros, mas por pressão do grupo político que apóia o presidente uruguaio Tabaré Vazquez, a Frente Ampla (FA). Em uma convenção realizada domingo para eleger um novo diretório, a FA rechaçou a possibilidade do governo uruguaio avançar no livre comércio com os EUA e reafirmou a prioridade do Mercosul para o país.

Por ampla maioria dos 1.512 delegados que participaram do Congresso, a Frente soltou uma resolução reafirmando o bloco regional como prioridade da política externa. Com essa decisão, o governo Vazquez perdeu a forca na reivindicação que vinha fazendo aos demais sócios do Mercosul, principalmente Brasil e Argentina , de poder fechar um TLC em separado com os Estados Unidos. A FA também decidiu que as negociações sobre comércio exterior não poderão incluir propriedade intelectual, serviços e compras governamentais e que o governo deve ficar apenas com o Tifa, o tratado de investimentos que já mantém com os americanos, desde que ele não afete "interesses nacionais".

A decisão da frente enfraqueceu a posição do ministro da economia, Danilo Astori, ferrenho defensor do tratado com os EUA, e fortaleceu o chanceler Reinaldo Gárgano, que não concordava com o TLC. Por outro lado, fortaleceu indiretamente a posição dos sócios maiores do Mercosul, Brasil e Argentina, que rejeitaram sistematicamente os pedidos de Vazquez para que se abrisse uma exceção para que o Uruguai pudesse abrir um livre comércio com os EUA. Vazquez deve acatar a decisão de seus aliados já tem compromisso político com a Frente, sempre acatou suas decisões e disse no começo de seu governo que para ele existem duas bíblias, a Constituição e as resoluções da Frente Ampla.

Também participou do encontro de ontem o comissário da União Européia (EU) para Assuntos Econômicos e Monetários, Joaquim Almunia, que anunciou a celebração de dois acordos de cooperação com o Mercosul. Em um deles, a União Européia aportará 50 milhões de euros no Mercosul para apoiar processos de fortalecimento das instituições. Os recursos, de um empréstimo não reembolsável, serão destinados ao Parlamento, à Secretaria e ao Tribunal Permanente de Revisão do bloco, além de projetos em setores considerados importantes para um futuro acordo de associação entre os dois blocos, entre eles os de normas técnicas, sanitárias e fitossanitárias e de meio ambiente.

Em outro documento, a UE assinou um acordo de cooperação com o Paraguai, que envolve 117 milhões de euros no período 2007-2013. Pelo memorando, os setores prioritários para a destinação destes recursos serão educação e integração econômica.