Título: Banco centrais deslancham leilões de injeção de liquidez nos mercados
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2007, Finanças, p. C2

Alguns dos principais bancos centrais do mundo deram partida, ontem, ao plano de injetar liquidez nos mercados nesta virada de ano.

O mais agressivo foi o Banco Central Europeu (BCE) que anunciou a oferta de recursos ilimitados aos bancos por uma taxa igual ou superior a 4,21%. O objetivo do BCE é manter os juros ao redor dos 4%. As taxas dos empréstimos interbancários por duas semanas em euros caiu de 4,94% da abertura pela manhã para 4,5% com a notícia.

O Banco Nacional Suíço ofereceu até US$ 4 bilhões em fundos de curto prazo, com desconto em relação à taxa oficial do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), como parte dos esforços conjuntos para amainar a pressão sobre o mercado de empréstimos interbancários.

O Fed realizou o primeiro dos quatro leilões de dinheiro por três meses para bancos e instituições financeiras desenhados para aliviar o aperto de liquidez no final do ano. essa primeira tranche seria de US$ 20 bilhões. O Banco da Inglaterra vai agir hoje.

A maioria dos analistas, no entanto, avalia que apenas a intervenção conjunta do Fed, Banco Nacional Suíço, BCE, Banco da Inglaterra e Banco do Canadá provavelmente não será suficiente para resolver a crise.

Os bancos privados vêm evitando fazer empréstimos entre si desde agosto, depois de terem percebido que alguns deles estavam com grande exposição a investimentos ligados ao mercado de hipotecas "subprime", de baixa qualidade, dos EUA. Apenas quando a confiança entre os bancos for restabelecida, o mercado de empréstimos interbancários, que lubrifica as engrenagens da economia global, será liberado.

"O verdadeiro entrave aqui é a relutância em emprestar", observou Jeremy Stretch, estrategista do Rabobank. "Portanto, é muito bom injetar dinheiro no sistema, mas se os bancos o deixarem embaixo do colchão, isso não irá necessariamente aliviar o problema", acrescentou.

As hipotecas de alto risco (subprime), nas quais o dinheiro é emprestado a pessoas com maior risco de inadimplência, foram agrupadas em complexos produtos financeiros e vendidas por todo o mundo.

O mercado monetário provavelmente somente voltará a operar com normalidade quando acabarem as incertezas sobre quem está exposto às hipotecas e até que ponto.

Nesse sentido, os resultados das grandes feras bancárias dos EUA obscurecerão toda esta semana que antecede o Natal. Três grandes bancos de investimentos e corretoras de Wall Street divulgam seus resultados trimestrais: Goldman Sachs anuncia o balanço hoje, o Morgan Stanley, amanhã, e o Bear Stearns, na quinta-feira.

Até agora, o setor financeiro mundial anunciou baixas contábeis superiores a US$ 65 bilhões por perdas relacionadas a créditos. O prejuízo total com a debacle das hipotecas de baixa qualidade é estimado em torno a US$ 300 bilhões, de forma que os investidores preparam-se para mais golpes. Mais problemas aproximam-se, de outras frentes.

Analistas de crédito advertiram ontem que se a agência avaliadora de risco Moody´s rebaixar a classificação de seguradoras especializadas em bônus, o impacto poderia ter alcance muito maior nos mercados financeiros.

Na sexta-feira, no fim do dia, a Moody´s informou que cogitava cortar a nota de crédito da Financial Guaranty Insurance Co, em parte controlada pelo Blackstone Group e XL Capital Assurance. Ainda reafirmou os ratings da MBIA Insurance Corp e da CIFG Guaranty, ambos de "Aaa", mas os deixou com perspectiva "negativa", o que indica possível rebaixamento.

A Moody´s teme que as seguradoras de bônus não tenham capital suficiente para sustentar suas notas, cruciais para que mantenham a capacidade de subscrever contratos de seguros.