Título: CPM Braxis e Totvs levam suas operações para fora do país
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Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Empresas, p. B1

Elas são hoje as duas maiores empresas brasileiras de software e serviços de informática. De um lado está a Totvs, que lidera a consolidação das companhias especializadas em sistemas de gestão empresarial no país, disputando o mercado com multinacionais como Oracle e SAP. Do outro está a CPM Braxis, que tem puxado o bloco das operações nacionais especializadas em terceirização de serviços de tecnologia - o chamado "offshore outsourcing" - um ritmo de expansão embalado por aproximadamente 300 contratações mensais, somando mais de 5 mil funcionários.

A força do mercado brasileiro, porém, que neste ano deverá movimentar US$ 20 bilhões em tecnologia da informação (TI), segundo a consultoria IDC, já não contenta as metas de expansão dessas empresas. Nas palavras de Jair Ribeiro, presidente e sócio da CPM Braxis, o destino é certo: "Seremos uma das dez maiores empresas de serviços de tecnologia do mundo. Mas para isso, temos que sair."

A CPM Braxis já saiu. Em 2004, quando ainda era só CPM, a empresa chegou a abrir escritórios em Nova York e Miami. A investida, no entanto, não deslanchou como a companhia planejava. "O mercado de terceirização não estava pronto, o Brasil também não estava. Mas hoje o setor está maduro", diz Ribeiro.

A CPM Braxis fez a lição de casa e reformulou sua estratégia. Para tocar as operações nos EUA, acaba de contratar Alvi Abuaf, executivo que traz na bagagem passagem pelo Citigroup e Ernst & Young. Com seu novo gestor internacional, que ficará sediado em Nova York, a empresa quer mudar a maneira como vinha abordando os americanos. "Não vamos atrás de qualquer companhia, como acontecia antes. No alvo está apenas o setor financeiro", comenta Abuaf. "Neste momento tenho 11 bancos na minha agenda, e nada mais."

Agora os números também são mais precisos. A meta de Abuaf é elevar dos atuais US$ 15 milhões para US$ 30 milhões o faturamento da área internacional da empresa em 2008. Hoje a CPM Braxis tem cerca de 300 pessoas dedicadas exclusivamente aos seus "clientes globais". Esse quadro, segundo Abuaf, irá dobrar até o fim do ano que vem.

Essa tentativa de ajustar o foco fora do país também mexe com os planos da Totvs, que no último trimestre criou a sua "diretoria de expansão internacional". Essa reformulação tem agora seu primeiro desdobramento. A companhia deve inaugurar em janeiro a Euro Totvs, que ficará baseada na cidade de Lisboa, em Portugal.

A Totvs já vendia seus sistemas em solo lusitano, mas apenas por meio de uma revenda especializada. "Agora teremos uma unidade própria, que começa a funcionar com 20 funcionários", diz o presidente do Grupo Totvs, Laércio Cosentino.

Cerca de ? 1 milhão foi investido na nova sede, que deverá ter a sua estrutura dobrada ao longo do ano que vem. Embora já tenha seus sistemas traduzidos para os idiomas inglês e espanhol, Cosentino afirma que a companhia não pretende abraçar toda a Europa a partir de sua nova unidade. "Temos um alvo nesse momento, que são as pequenas e médias empresas de Portugal, além de companhias de outros países de língua portuguesa, como Angola e Moçambique."

A unidade portuguesa nasce com 24 clientes, praticamente um suspiro se comparada à base de mais de 15 mil clientes que a Totvs concentra no Brasil. Mas segundo Flavio Balestrin, que passou a comandar as operações internacionais da empresa, o volume demonstra o mercado potencial que há pelo frente.

Hoje a Totvs tem operações próprias na Argentina e no México, além de canais de distribuição no Chile, Paraguai, Porto Rico e Uruguai. Embora os contratos internacionais respondam por ínfimos 5% do faturamento total da companhia, a Totvs já consegue se destacar internacionalmente no mercado em que atua. Segundo estudo da empresa de pesquisas Gartner, atualmente a empresa ocupa o 14º lugar no ranking mundial das maiores empresas de sistemas de gestão. Se consideradas apenas as empresas com sede fora dos Estados Unidos, a Totvs sobe para a quarta posição.

São posições também almejadas pela CPM Braxis na arena da terceirização de tecnologia, uma labuta que, segundo Rogério Brecha, sócio-diretor da companhia, poderá ter ajuda de aquisições em outros países. Na mira da companhia estão operações na Argentina, Chile e México. "Não queremos ser mais uma empresa concorrente das companhias indianas, isso é passado", diz Brecha. "O que queremos é ser a alternativa para aqueles que já estão por lá".