Título: Kraft e Perdigão negam negociações
Autor: Balarin , Raquel ; Adach , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Empresas, p. B3

A Kraft Foods, segunda maior empresa de alimentos do mundo, negou ontem que esteja em negociação para comprar a brasileira Perdigão. Em comunicado, a companhia, porém, não negou que estivesse estudando uma oferta de aquisição, conforme noticiou o Valor em sua edição de ontem.

Há dois meses, a Kraft no Brasil procurou bancos de investimentos para assessorá-la na aquisição de uma grande companhia de alimentos. Além disso, o Valor apurou que a empresa já estuda há algum tempo o desenho de uma possível oferta pela Perdigão. Mas há indícios de que a matriz, nos Estados Unidos, ainda não havia aprovado a operação.

O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, está fora do Brasil em apresentação a investidores por conta de uma oferta pública de ações. Mas a administração da Perdigão enviou, ontem, comunicado à Bolsa de Valores de São Paulo e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) afirmando que foi surpreendida pela notícia e que não tinha conhecimento a respeito dos fatos. A Previ, fundação dos funcionários do Banco do Brasil, que tem 15,68% do capital da empresa, também informou que não tem conhecimento de negociações.

Ontem, representantes dos seis fundos de pensão que detêm juntos 42,8% da Perdigão passaram a manhã trocando telefonemas para se certificar se alguém havia sido procurado pela Kraft. As respostas foram todas negativas. A partir daí, passou a se desconfiar que a Sadia poderia estar envolvida na divulgação da informação para comprometer a oferta pública de ações da Perdigão que está em andamento para financiar parte da compra da Eleva (carnes e leite).

Na Sadia, no entanto, o clima foi de surpresa e apreensão diante da possibilidade de a gigante americana destruir o seu sonho, que ainda persiste, de unir as operações com a rival brasileira. Em julho do ano passado a Sadia fez uma malsucedida oferta hostil pelo controle da Perdigão. Até então, a Sadia superava a Perdigão em faturamento. Mas a situação se inverteu agora com a incorporação da Eleva em outubro.

Se quiser prosseguir com seus planos de compra da brasileira, a Kraft pode se deparar com dificuldades tão grandes quanto as enfrentadas pela Sadia. Além da resistência do governo federal, que não gostaria de ver a Perdigão nas mãos de um grupo estrangeiro, há que se superar barreiras do estatuto da brasileira, que tem cláusulas bastante duras para evitar aquisições hostis. Qualquer acionista que atinja participação de 20% é obrigado a fazer uma oferta pública para todos os demais. Neste caso, prevalece o maior preço entre três parâmetros: o valor econômico apurado em laudo de avaliação; 135% do preço de emissão das ações em qualquer aumento de capital realizado 24 meses antes; e 135% da cotação média nos 30 dias anteriores à realização da oferta pública de compra. Além disso, embora os fundos de pensão tenham desfeito o bloco de controle, mantêm um acordo de voto em conjunto válido até 2011.

Ontem, as ações da Perdigão subiram 4,59% e o valor de mercado dela foi a R$ 7,53 bilhões. O desembolso mínimo em uma aquisição da totalidade das ações seria de R$ 10,17 bilhões, segundo as regras do estatuto.

Desde que a Sadia fez sua oferta hostil em julho do ano passado, a Perdigão tem despertado interesse de empresas nacionais e estrangeiras do setor de alimentos. Recentemente, por exemplo, o frigorífico Bertin fez uma proposta à empresa, prontamente recusada. Por isso não surpreende o interesse da Kraft, que acaba de concluir a compra da unidade de biscoitos da francesa Danone por US$ 7,8 bilhões e declarou que tem planos de se expandir em mercados de rápido crescimento do consumo, fora dos Estados Unidos.

No Brasil, a multinacional está presente nos segmentos de biscoitos e "snacks" com a marca Nabisco, de sucos (Maguary), de chocolates (Lacta e Milka) e de "cream cheese", com a marca Philadelphia. Para este último produto, a empresa possui um acordo de distribuição com a Batávia, do grupo Perdigão. No último ano e meio, a companhia brasileira tem ampliado seu portfolio de produtos, para se distanciar da imagem de um frigorífico para se consolidar como uma empresa de alimentos.