Título: Crédito fecha o ano distante da Selic
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros em 11,25% na última reunião do ano, realizada ontem. A queda acumulada ao longo do ano ficou em dois pontos percentuais.

As taxas do crédito também caíram ao longo do ano, mas os juros ainda são tão elevados que os tomadores não sentiram um alívio efetivo.

Para o consumidor final, a percepção da queda dos juros é quase nula, explica o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira. "As taxas bancárias continuam muito altas e distantes da Selic. Por isso, o impacto positivo se dá nos prazos mais longos, não nas taxas menores", avalia.

Além disso, as margens de lucro dos bancos continuam altas. Os chamados spreads, a diferença entre o custo dos recursos das instituições e o quanto elas cobram do tomador final continua em 24,4% em média.

A tendência para os próximos meses, mesmo com a estabilização da Selic, é de continuidade na queda dos juros bancários, acredita o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Érico Ferreira. "A redução da Selic já impactou o que deveria. O que vier agora de queda dos juros bancários será devido à concorrência", diz.

Há outros fatores que podem permitir a redução nos juros, como a queda na inadimplência e até a elevação do emprego e da renda, diz o assessor econômico da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Everton Gonçalves.

Para o fim deste ano, o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira, concorda que as taxas de juros bancários pode cair mais. Para 2008, no entanto, ele acredita em estabilidade das taxas. "A Selic é um componente importante do spread bancário e por isso os juros só caem com a redução da taxa básica", explica Pereira.

Desde o início desse ciclo de flexibilização da política monetária pelo BC, em setembro de 2005, as taxas médias de juros cobrados pelos bancos caíram de 48,1% para 35,4% ao ano, em outubro, segundo dados do Banco Central. Neste ano a queda foi de 39,9% para os 35,4% ao ano.

Quem mais ganhou nesse processo foram as grandes empresas, acredita o diretor da Anefac. "As pessoas físicas e as pequenas e médias empresas tem muito menos poder de barganha", explica Oliveira.

Entre as taxas mais baixas cobradas hoje está a do financiamento de veículos para pessoas físicas. Em operações promocionais, os bancos chegam a oferecer taxas de 0,45% ao mês em operações de leasing. A taxa equivale a 5,53% ao ano. Segundo dados do BC, a menor taxa do financiamento é de 0,86% ao mês, ou 10,82% ao ano.

Nessa modalidade, os mais agressivos são os bancos de montadoras. Em média, a taxa dos financiamentos de carros é de 28,4% ao ano. Entre os bancos de montadoras, é de 19,6% ao ano, cerca de 1,5% ao mês. "Temos taxas mais baixas em média porque somos chamados para ações promocionais pelas montadoras para escoar produtos específicos", explica o diretor da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Flávio Croppo.

No imobiliário, a redução também ocorreu, explica Oliveira. Em operações com recursos livre, os juros caíram de 16% para 12% ao ano. As menores taxas são os repasses de recursos do FGTS para a baixa renda pela Caixa Econômica Federal, que devem iniciar o ano em 8,5% ao ano.

Para empresas, as taxas mais baixas também são de aquisição de bens, que chegam a 15,8% ao ano. O capital de giro, a linha com maior volume de recursos, está em 28,4% ao ano, nas taxas prefixadas. As grande empresas conseguem, em média, taxas de giro de 19% ao ano, em operações com taxas flutuantes.

Desde agosto, no entanto, os bancos experimentaram uma elevação nos custos de captação devido às turbulências na economia mundial provocada pela crise de inadimplência nas hipotecas de alto risco (subprime) nos Estados Unidos.

Essa crise provocou elevação dos juros futuros, principal referência para as taxas cobradas pelos bancos dos consumidores finais. Com isso, os juros médios cobrados das empresas tiveram elevação de 0,4 ponto percentual. Na pessoa física, esse fenômeno ainda não ocorreu.