Título: Fraudes de até R$ 4 bilhões
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 29/01/2011, Economia, p. 20

Rombo no banco pode ser maior do que o esperado. Nova administração admite estar negociando a venda da instituição Em meio a boatos de venda e do vazamento de informações do balanço do terceiro trimestre de 2010, que deve ser divulgado na segunda-feira (31), o Banco PanAmericano confirmou ontem, por meio de um fato relevante, que ocorreram negociações com várias instituições financeiras na última semana, mas afirmando que nenhum acordo foi formalizado até o momento. Na nota, o banco reconheceu que ainda não identificou o valor das ¿inconsistências contábeis¿, o que fez com que o mercado interpretasse que o rombo pode ser até mesmo superior aos R$ 2,5 bilhões identificados em novembro passado.

O braço financeiro do Grupo Silvio Santos (GSS) não informou quais seriam esses possíveis compradores. Entretanto, os principais nomes que circulam no mercado são os dos bancos Bradesco, Santander e BTG Pactual. Procuradas, as assessorias das instituições disseram apenas que não comentariam boatos, apesar de não negarem o interesse na aquisição.

O último balanço divulgado pelo banco foi o do segundo trimestre de 2010, no qual o prejuízo chegou a R$ 20,9 milhões. Em novembro, a instituição informou que não iria divulgar os resultados do terceiro trimestre na data prevista, que é até 30 dias após o encerramento do período. De acordo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ¿o descumprimento dos prazos implica em uma multa diária de R$ 500¿ e a financeira será multada a contar da data da entrega do informativo.

A expectativa do mercado é de que o Panamericano divulgue no balanço um rombo de aproximadamente R$ 4 bilhões. Após ser detectada a fraude contábil, o GSS, que detém 37,6% do capital total, tomou um empréstimo de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em novembro passado para cobrir o buraco da fraude. ¿A atual administração não identificou o valor das inconsistências contábeis informadas anteriormente e que serão objeto de divulgação ao mercado na próxima semana¿, disse o comunicado.

Desvalorização O fato relevante chegou a fazer com que as ações do PanAmericano tivessem uma pequena alta no início da tarde de ontem. Entretanto, ao fim do dia, os papéis preferenciais (sem direito a voto) do banco voltaram a despencar como no dia anterior e fecharam com retração de 0,23%, a R$ 4,39. Nos últimos 12 meses, a desvalorização do papel beira os 60%.

Em 4 de janeiro de 2010, as ações da financeira controlada pelo GSS e da qual a Caixa tem 36,6% de participação, atingiram o teto de R$ 12,31. ¿Desde então, só registram perdas e, hoje, o volume desses papéis negociado na bolsa é muito pequeno porque há pouco interesse dos investidores devido à descoberta da fraude contábil¿, comentou o assessor da Tov Corretora, Breno Carlos.

Escândalos como o do banco PanAmericano não são bons para o mercado de capitais, lembram os analistas. ¿Isso é muito ruim para a imagem não somente do setor financeiro, dos mercados, mas também do país perante os investidores internacionais¿, comentou a presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) Nacional, Lucy Sousa. Ela lembrou que, lá fora, casos como esse já teriam resultado na prisão preventiva dos responsáveis.

¿Aqui, infelizmente, a Justiça é lenta e beneficia os poderosos. Vamos torcer para que haja punições¿, completou. A coordenadora do centro de conhecimento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Adriane de Almeida, engrossa o coro: ¿Esse tipo de notícia só aumenta a desconfiança. Uma boa estrutura de governança, com pessoas que tenham conhecimento, ajuda a minimizar os riscos de fraude contábil¿.

CACCIOLA EM REGIME SEMIABERTO » O banqueiro italiano Salvatore Alberto Cacciola, preso há 3 anos e quatro meses, ganhou o direito de cumprir pena em regime semiaberto. A autorização foi concedida pela juíza Roberta Barrouin Carvalho de Souza, da Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro. O advogado de Cacciola disse que deverá pedir autorização para o preso trabalhar. Como forma de monitorá-lo, não está descartado o uso de tornozeleiras ou pulseiras com chips que controlam presidiários em liberdade provisória. Cacciola foi condenado a 13 anos de cadeia por crimes contra o sistema financeiro. O preso deverá ser transferido do Presidido de Bangu 8 para o Instituto Penal Plácido Sá Carvalho, no Rio.