Título: Lula reúne Conselho pela 1ª vez desde a derrota da CPMF
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2007, Política, p. A14

Menos de uma semana depois da derrubada da CPMF e da criação de um rombo de R$ 40 bilhões nas contas governamentais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu ontem um jantar aos integrantes do Conselho Político, no Palácio da Alvorada. O encontro estava agendado desde o dia 14 de novembro e, na expectativa de ministros e políticos da base aliada, não haveria clima para puxões de orelha ou constrangimentos. "Eu espero que seja uma confraternização de Natal, efetivamente", declarou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

Esta foi a primeira reunião oficial de Lula com sua base depois da derrubada da emenda do imposto do cheque. Participaram os presidentes de partidos aliados e líderes na Câmara e no Senado.

No dia seguinte à derrota no Senado, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, reconheceu que era preciso "rever as relações com os aliados, para medir quem deseja e quem não deseja ajudar na construção de um país melhor". Ontem, um ministro ouvido pelo Valor minimizou as infidelidades. Para ele, os três senadores do PMDB que votaram contra a CPMF - Jarbas Vasconcelos (PE); Mão Santa (PI) e Geraldo Mesquita - não são da base; os dois ex-DEM (César Borges e Romeu Tuma) ficaram com medo de perder seus mandatos porque as teses políticas dos partidos a que estavam antes filiados condenavam o imposto; e outros dois - Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Expedito Júnior (PR-RO) - realmente desrespeitaram a orientação das lideranças

Para o ministro, o país chega ao fim do ano com crescimento superior a 5%, com as políticas de inclusão social surtindo efeito e, por isso, não há razão para reprimendas políticas aos aliados. "Nós temos discursos para apresentar ao nosso eleitorado, quem não tem é a oposição", desafiou o colaborador do presidente. "Vamos com calma, pensar no que fazer para recompor as contas. A oposição pode se dar ao luxo de agir com irresponsabilidade. Nós, não", frisou o ministro palaciano.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) reconheceu a necessidade de ajustes no relacionamento político, especialmente no Senado. Mas lembrou que praticamente todas as matérias de interesse do Executivo encaminhadas ao Congresso foram aprovadas. "Tome como exemplo o PAC. Só falta votar, no plenário do Senado, o projeto que limita a expansão da folha de pagamento do funcionalismo público", lembrou ela. "Diante da crise em que vivemos esse ano, sobretudo no Senado, o saldo foi mais que positivo", complementou.

O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PMDB-RS), alegou que a derrota da CPMF no Senado demonstra as dificuldades do governo em votar matérias constitucionais, de quorum qualificado. "Mas veja o caso do PMDB, por exemplo. Tanto na Câmara quanto no Senado a legenda deu quase 90% dos votos alinhados com o governo", destacou. "Não podemos e não vamos ficar presos aos 10% que não votaram".

Líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO) afirmou que, em um determinado momento da tramitação da PEC no Senado, todos já sabiam que não haveria votos suficientes para prorrogar a CPMF. "Não acredito que haja necessidade de um puxão de orelhas. A reunião servirá como confraternização e balanço, todos sabem que a base fez o que foi possível", justificou Raupp.

O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), afirmou que as lideranças partidárias agiram no limite de suas possibilidades e, por isso, não há porque buscar culpados individuais na derrota da CPMF. "Houve, sim, um conjunto de equívocos ao longo deste processo. O episódio mostrou que o governo terá que aprender a dialogar mais com as forças políticas do Senado, tanto de sua base quanto da oposição".

Casagrande apostava que o discurso presidencial seguiria nessa linha do entendimento e da composição, para que episódios como os da CPMF não se repitam. Mas o senador capixaba não escondia que existem rusgas entre Câmara e Senado. "O único atrito possível é se algum deputado resolver cobrar dos senadores a derrota da CPMF", afirmou.