Título: Bancos ganham US$ 2 bi com IPOs
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2007, Finanças, p. C1

Os bancos de investimento nunca ganharam tanto com o mercado de emissão de ações no Brasil quanto neste ano. Os valores pagos pelas empresas ou bancos emissores aos coordenadores das operações vão de US$ 1,8 bilhão a US$ 2 bilhões, segundo os especialistas do mercado. Foram considerados os ganhos com comissões nas emissões iniciais públicas de ações (IPOs), primárias ou secundárias, e nas emissões de lotes adicionais de ações, o que deve totalizar US$ 1,5 bilhão. Os ganhos dos bancos com opções de compra embutidas em empréstimos pré-IPO ("equity kickers") também foram incluídos e estimados em US$ 300 milhões a US$ 500 milhões.

As receitas foram recordes em um mercado que atingiu seu recorde histórico. O volume captado por empresas e bancos, sobre o qual os líderes ganham comissão, passou de US$ 13,3 bilhões em 2006 para mais de US$ 36 bilhões neste ano, somadas ofertas primárias, secundárias, lote adicional e títulos conversíveis.

É mais do que o dobro do ano anterior. Com isso, executivos principais dos bancos líderes vão ganhar mais em bônus no Brasil do que do que os executivos do mesmo banco no exterior. Descapitalizados devido à inadimplência nas hipotecas de alto risco nos Estados Unidos e em meio a uma forte crise de crédito que dificulta a captação de recursos, os maiores bancos de investimento internacionais estão reduzindo os bônus de seus executivos em todo o mundo. Mas, no Brasil, o Credit Suisse e o UBS conseguiram escapar dos cortes.

O Credit Suisse foi o grande destaque do mercado e se consolidou na primeira posição. Os dois rankings da Thomson Financial (IPOs e lote adicional), apurados neste ano até ontem, e mais o da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), deste ano até o final de novembro, mostram o suíço na frente, seguido logo atrás por outro suíço, o UBS Pactual. O brasileiro Itaú BBA se manteve na terceira posição. Na verdade, os três largaram 2007 na frente e se consolidaram como líderes do mercado, apesar do aumento brutal da concorrência durante o ano.

Os investimentos feitos por mais de dez anos e a manutenção das corretoras de ações abertas durante os piores anos do mercado agora estão pagando a pena. "Esse é um caso no qual o sucesso puxa sucesso", diz Jean Marc Eltin, responsável pelo banco de investimento do Itaú BBA. Ele lembra que o IPO é um evento importante na vida de uma empresa. "Se você vai fazer uma operação decisiva para sua saúde, vai querer o médico mais experiente e com mais resultados positivos", afirma.

"Quando o banco é forte no mercado, já entende bem como ele funciona, sabe como preparar a empresa para o IPO, sabe quais são os principais investidores, como fazer a distribuição etc.", concorda Alexandre Bettamio, que, junto com Rodolfo Riechert, é responsável pelo banco de investimento do UBS Pactual. Investir é ingrediente necessário, mas não suficiente, na receita para o sucesso com IPOs. "É preciso ter foco e capacidade de adaptação às mudanças no mercado", diz José Olympio Pereira, responsável pelo banco de investimento do Credit Suisse.

Já em 97 o Credit Suisse investiu pesado no Brasil. Adquiriu um dos principais bancos de investimento brasileiros, o Garantia, por cerca de US$ 1 bilhão. Na época, porém, a maior parte da receita da instituição financeira vinha da tesouraria. Mas, o Garantia atuava no minguado mercado de ações do Brasil - era forte no "block trade", vendas em bloco que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social fazia das ações que tinha em carteira para fundos de pensão.

O Credit Suisse nunca fechou sua corretora, nem mesmo em meio à crise eleitoral forte de 2002. No ano passado, pôs mais US$ 294 milhões de recursos no país com a compra de 50% da Hedging-Griffo, forte na gestão de recursos e gestão de fortunas. O relacionamento com altos executivos e empresários da área de gestão de fortunas ajuda o banco de investimento a conhecer empresas clientes para os IPOs e investidores para a compra de ações. O Itaú BBA e o UBS são líderes em gestão de fortunas.

Os investimento do UBS no mercado de ações no país começaram há mais de dez anos. Ainda em 98, o então Warburg Dillon Read comprou o brasileiro Omega, também forte no "block trade". "Defendi que mantivéssemos a corretora aberta mesmo no pior momento e isso fez toda a diferença depois para o UBS, pois, quando o mercado voltou, a estrutura já estava pronta", lembra Etlin. Ele era, até 2005, um dos responsáveis pelo banco de investimento do UBS na América Latina. Em 2005, quando o mercado esquentava e o UBS era o segundo no mercado de IPOs, atrás do Pactual, Etlin foi "roubado" com equipe pelo Itaú BBA.

Segundo Etlin, após comprar o BBA, em 2002, o Itaú já vinha com os pilares da estrutura para atuação no mercado de renda variável. São eles: uma área de pesquisa forte, uma corretora com distribuição eficiente no Brasil e no exterior, uma equipe de estruturação de operações e para preparar a empresa para o IPO e relacionamento com as companhias brasileiras. "Era só colocar tudo isso junto e dar foco", afirma.

Com a perda de Etlin e equipe, o UBS balançou e chegou a perder posições no mercado, mas logo depois reagiu e fez um investimento pesado: comprou o líder Pactual por US$ 2,5 bilhões, que podem chegar a US$ 3 bilhões. Com executivos seniores de destaque à frente, investimentos, mesmo que tardios, aliado a foco, também surtiram efeito. Galgaram muitos postos nos rankings o Bradesco, com o BBI, o Citigroup e o Goldman Sachs, que negociou, mas não levou, o Pactual e optou pelo crescimento orgânico. O Unibanco perdeu posições.