Título: Guerra por talentos terá novo round
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2007, Finanças, p. C6

Cientes que um executivo sênior pode trazer consigo da concorrência não apenas know-how e experiência, mas relacionamentos preciosos - clientes que confiam nele e investidores -, os bancos de investimentos não poupam esforços nas contratações. Neste momento está em curso mais um round da guerra por talentos, que será definida em 2008, em meio a um cenário de encolhimento do mercado de emissões públicas de ações.

O Credit Suisse acaba de fazer uma contratação de peso: o diretor-gerente Eduardo Gentil, que chefiou a Goldman Sachs no Brasil de 1994 a 2002. Gentil já foi presidente da Visa Internacional no Brasil, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e membro do conselho de administração da Klabin e da Net.

Neste ano, o Citigroup mais do que dobrou o número de funcionários do banco de investimento e corretora, reaberta em 2006, para cerca de 100 pessoas, conta Ricardo Lacerda, responsável pelo banco de investimento. O Bradesco também foi agressivo nas contratações, ampliando a área em mais de 50 pessoas. "O banco tinha um relacionamento de longo prazo com as empresas e colocou foco importante na área de banco de investimento", disse Bernardo Parnes, diretor-geral do Bradesco Banco de Investimento (BBI).

O Morgan Stanley está sem presidente no Brasil. Um executivo principal de banco de investimento nacional chegou a ser sondado, mas recusou a oferta. Bancos estrangeiros que mais perderam com a crise de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos saem em desvantagem na guerra por talentos, principalmente aqueles que não conseguiram garantir no Brasil bônus condizentes com os ganhos maiores obtidos pelas equipes brasileiras com os IPOs.

A cultura dos bancos de investimento está ligada à participação nos resultados pelos executivos, se possível até mesmo como sócios. A performance superior e dedicação integral são premiadas com bônus maiores e promoções. Isso estimula os ganhos imediatos da instituição. Um dos que trouxe essa cultura ao país foi Jorge Paulo Lehman, fundador do Garantia, que possuía muitos sócios. Parte deles deixou o banco e foi fundar o Pactual, recém-comprado pelo UBS.

"É como um escritório de advocacia", explica José Olympio Pereira, responsável pelo banco de investimento do Credit Suisse e ex-Garantia. O presidente do Credit Suisse no Brasil, Antonio Quintella, recém-promovido a membro do conselho de global markets mundial do banco - que inclui negócios de renda fixa e variável - também veio do Garantia.

"Temos uma cultura de excelência, de meritocracia", diz Pereira. "E muito dessa cultura se deve ao Jorge Paulo", admite. "É necessário dividir o bolo, para que todos fiquem estimulados e que os melhores talentos sejam mantidos", diz. Ele não nega que executivos estimulados trabalham mais e se dedicam mais às suas organizações.

Os funcionários do Credit Suisse, que comprou o Garantia, não são sócios, mas a filial do Brasil tem autonomia regional para dar bônus aos seus funcionários independentemente da política internacional. O Itaú BBA também dá bônus a todos os funcionários.

No UBS, o brasileiro André Esteves, chefe global de renda fixa do banco e diretor-presidente na América Latina, teve de interceder pessoalmente para garantir ganhos maiores aos brasileiros. O UBS foi um dos bancos mais afetados pela crise de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, está descapitalizado e reduziu bônus de seus executivos e ampliou a parcela paga em ações. Os executivos vindos do Pactual, onde ganhos maiores significavam bônus maiores automaticamente, ficaram descontentes e chiaram. Resta saber qual será o impacto da disputa na dança das cadeiras no mercado durante 2008. Consultados, os executivos dos bancos Credit Suisse e UBS não quiseram comentar o assunto. A Goldman Sachs, segundo apurou o Valor, vai pagar bônus elevados a seus executivos principais no país, diferente de outros americanos.