Título: Receita do comércio exterior tem forte expansão
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Fonte: Valor Econômico, 19/12/2007, Especial, p. F5

Um número cada vez maior de companhias de pequeno porte tem se voltado ao mercado externo, e isso tem turbinado a receita com exportações do país. A despeito do real valorizado, que leva os empresários a colocar na carteira menos reais por dólar recebido, essas empresas continuam a bater na porta de clientes estrangeiros e têm aproveitado novas ferramentas, simplificadas, de exportação para ampliar o volume vendido lá fora. No entanto, a pauta de exportações dos pequenos empreendimentos continua pouco variada. Produtos como máquinas e equipamentos e madeira e suas obras responderam por um quarto do valor exportado no ano passado.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior, de janeiro a junho de 2007, 9.082 micro e pequenas empresas exportaram US$ 1,49 bilhão, o que representa um aumento de 3,8% no número de exportadores e de 41,2% na receita obtida em relação ao primeiro semestre de 2006. Esses são os dados mais atualizados disponíveis no mercado. "Tem muita empresa pequena e média crescendo muito, muito mesmo. Na análise geral, as taxas de aumento na receita mostram uma alta de dois dígitos, mas há expansões muito mais fortes", diz Marco Serra, sócio da Brasilpar, assessoria financeira especializada em fusões e aquisições de empresas de diferentes portes.

As médias e grandes empresas também registraram expansão nos indicadores, porém as taxas ficaram abaixo da verificada nos pequenos empreendimentos, segundo o ministério. Para essas companhias maiores, a elevação na receita no primeiro semestre foi de 19%, e na média empresa, 28% em relação a 2006. Essa variação mais tímida não pode ser interpretada como desprezível. Pelo contrário. Isso é reflexo, em parte, do próprio nível de maturidade dos negócios. Grandes empresas registram taxas menores porque possuem bases de comparação mais elevadas.

Um bom sinal da maior inserção no exterior de mercadorias "made in Brazil" produzidas por pequenos empresários é o aumento da taxa de participação das firmas de menor porte no valor total exportado pelo país. O segmento foi responsável por 2% do total embarcado nos primeiros seis meses do ano, contra 1,7% até junho de 2006, ou 0,3 ponto a mais, que equivale a uma alta de quase 18% na taxa. Foram as grandes companhias que perderam participação no bolo, e não as pequenas. Essa taxa de participação caiu de 91,5% para 90,7% no primeiro semestre.

Quem faz parte dessas estatísticas é a empresa de Maria Tereza Géo Rodrigues, a Talento Jóias, de Uberaba (MG), criada em 1990. Cerca de 15% da receita anual da companhia é obtida com o embarque de peças a países árabes e EUA, e esse novo mercado tem ajudado a empresa a fechar o ano no azul. A Talento deve crescer 17,5% neste ano, e mais 10% em 2008, com ajuda da maior fidelidade de clientes internacionais à marca. No Brasil, são três lojas, em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. "Fomos ganhando mercado na base da persistência e confiança. Quando perceberam que éramos sérios e tínhamos produtos de qualidade, o negócio andou", conta Maria Tereza, filha da fundadora, Terezinha Géo Rodrigues. Com clientes em Nova York e Miami, além da Arábia Saudita, a Talento vende lá fora há quatro anos e usa como porta de entrada as feiras internacionais, patrocinada pela Apex, a agência de promoção de exportações do governo. "Há uma boa vontade maior dos clientes internacionais com a marca Brasil. O país está na moda lá fora e acho que isso facilita os negócios", diz a empresária.

Na avaliação de especialistas, a internacionalização das micro e pequenas empresas é possível, mas para isso é preciso aliar a determinação do empresário a outros fatores como, criatividade, estrutura de investimento e encarar desafios como distância geográfica dos mercados e barreiras culturais. Na análise de Altair Assumpção, superintendente executivo de middle market do Banco Real, ainda há muito o que evoluir para atender de maneira mais eficiente as pequenas companhias. Mas já se fez muito no sistema financeiro, acredita ele. "Devem amadurecer as ferramentas de crédito ofertadas pelos bancos. Tende a haver maior segmentação das opções de crédito para cada segmento. Isso é um processo em andamento", diz ele. (A.F.)