Título: Nordeste deve crescer menos que país este ano
Autor: Mandl , Carolina
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2007, Brasil, p. A3

Ao contrário do que ocorre desde 2002, o Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste deve crescer menos neste ano do que a economia nacional. Essa é a previsão da consultoria Datamétrica, que projeta aumento de 4,76% para o PIB nordestino ante uma expectativa de 5,06% do brasileiro. Isso deve ocorrer, segundo o estudo da Datamétrica, por quatro motivos: baixos investimentos em máquinas e equipamentos na região, manutenção dos gastos do governo, produção agrícola fraca e crescimento das importações.

"Os investimentos estão mais concentrados no Sudeste, onde fica a maioria das indústrias, por isso o Nordeste não tem se beneficiado desse movimento", avalia Alexandre Rands, sócio da Datamétrica. Do lado dos gastos do governo, o economista diz que, ao contrário de anos anteriores, não houve grande expansão em 2007, por isso não trouxe impacto para o PIB.

A produção agrícola do Nordeste deve apresentar crescimento de 3,26%, enquanto a brasileira deve subir 7,65%. "Foram os grãos que puxaram a alta nacional, o que não é o forte do Nordeste. Além disso, a seca atrapalhou a produção de muitas áreas", diz o economista. Em alguns Estados, o desempenho agrícola foi até negativo, como é o caso do Ceará, Piauí e Paraíba, cujo valor bruto da produção agrícola deve encolher, respectivamente, 21,7%, 10,15% e 9,9%.

No comércio exterior, as exportações nordestinas estão crescendo a um ritmo inferior que as brasileiras. Por outro lado, as importações da região aumentam mais. Dados até outubro mostram que no ano as exportações do Nordeste subiram 12,6% ,contra 16,8% da média nacional. Já as importações aumentaram 29,7% no país e 33% na região. "A competição entre produtos importados e nacionais tem sido mais pesada para o Nordeste, uma região que produz muitos bens de consumo, como têxteis e calçados", explica Rands.

Para o próximo ano, porém, a Datamétrica prevê que a situação se reverta: o Nordeste deve voltar a crescer mais do que o país. A consultoria projeta 4,75% para o Nordeste, enquanto a expectativa para o país é de 4,4%. O que deve puxar esse movimento no Nordeste, segundo Rands, são os gastos públicos por causa do ano eleitoral. "A região é a que mais concentra os programas sociais. Num ano de eleição, o governo deve utilizar os canais já instalados, beneficiando mais a região", explica ele.

Outro ponto importante, de acordo com o economista, é que o consumo deve voltar a crescer. "Vários empreendimentos foram anunciados na região. Isso eleva a confiança da população, que passa a consumir mais." Também deve pesar para o desempenho da região a reação da indústria nordestina frente às importações. Segundo Rands, as empresas costumam procurar meios de driblar a situação do câmbio menos favorável.