Título: BC projeta déficit de US$ 3,5 bi em 2008
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2007, Finanças, p. C7

O Banco Central prevê um déficit em conta corrente de US$ 3,5 bilhões em 2008 em suas projeções oficiais para o balanço de pagamentos, divulgadas ontem. Caso se confirme, será o primeiro resultado negativo desde 2002, quando a crise das eleições presidenciais forçou o país a fazer um ajuste nas contas externas.

Em 2002, o déficit em conta corrente foi de US$ 7,637 bilhões. A partir de 2003, o Brasil apresentou superávits por cinco anos seguidos, chegando a um pico de US$ 13,985 bilhões em 2005. Para este ano, a estimativa é um saldo positivo de US$ 2,4 bilhões.

O fim do período de superávits em conta corrente não significará, porém, que deixará de haver abundância de dólares no mercado, reduzindo a pressão de valorização da moeda nacional. Nas contas do BC, o ingresso de divisas vai superar as saídas em US$ 25,2 bilhões, abrindo espaço para, em tese, a autoridade monetária acumular mais reservas internacionais.

A diferença é que, até agora, os superávits na balança comercial eram a principal fonte de dólares. A partir de 2008, consolida-se um quadro em que, além das exportações, os fluxos de capitais terão papel central no balanço de pagamentos, sobretudo investimentos estrangeiros diretos e investimentos no mercado de ações.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirma que o aquecimento da economia explica a volta do déficit em conta corrente em 2008. A autoridade monetária projeta um superávit comercial de US$ 30 bilhões, abaixo dos US$ 39 bilhões esperados para 2007.

A forte demanda interna deverá produzir crescimento de 17% nas importações, que chegariam a US$ 142 bilhões. As exportações avançariam 8%, chegando a US$ 172 bilhões. No cenário traçado pelo BC, é pouco provável que uma queda nos preços das "commodities" atrapalhe o desempenho das exportações.

A forte atividade econômica também teria repercussões nas contas de serviços e rendas. As remessas de lucros e dividendos são estimadas em US$ 20 bilhões, mantendo o padrão de 2007, quando as saídas devem chegar a US$ 20,9 bilhões. O déficit em viagens internacionais é previsto em US$ 3,5 bilhões, puxado pelo aumento da renda.

Na visão do BC, a volta dos déficits em conta corrente não preocupa porque: 1) é relativamente pequeno; 2) há capitais estáveis para financiá-lo, como investimentos diretos; 3) os indicadores de sustentabilidade externa estão mais sólidos.

O déficit em conta corrente esperado equivale a 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), o que significa que o ajuste necessário para fazer frente a uma eventual restrição de financiamento seria relativamente pequeno, comparado ao tamanho da economia brasileira.

A principal fonte de financiamento externo são os investimentos diretos, que estão sendo previstos em US$ 28 bilhões em 2008. O número é menor do que os US$ 35 bilhões estimados para este ano. Lopes pondera que, nas projeções, estão contemplados apenas investimentos programados pelas empresas para o próximo ano (o BC faz um minucioso acompanhamento dos projetos anunciados), sem incluir eventuais fusões e aquisições de empresas. Quando projetou os investimentos diretos para 2007, o BC esperava US$ 25 bilhões, mas as fusões e aquisições elevaram esse valor.

Outra fonte de financiamento do déficit externo são os investimentos de portfólio, estimados em US$ 26 bilhões. Nesse número, estão tanto os investimentos em ações como em renda fixa. A projeção oficial do BC pressupõe que sejam rolados 100% dos US$ 23,497 bilhões em papéis e empréstimos privados com vencimentos previsto para 2008.

Se as projeções do BC se confirmarem, os ingressos de dólares no mercado de câmbio em 2008 irão superar as saídas em US$ 25,2 bilhões. É um valor inferior aos US$ 76,3 bilhões esperados para 2007 e aos US$ 36,1 bilhões ocorridos em 2006. Ou seja, haverá uma menor abundância de dólares e, teoricamente, um colchão menor para amortecer eventuais crises externas. Mas, se o cenário traçado pelo BC se conformar, continuará a haver espaço para o BC manter sua política de acúmulo de reservas.

A projeção do BC é que, em 2008, as reservas, que fecharam em US$ 177,060 bilhões em novembro, cresçam para US$ 185,501 bilhões em 2008. Esse crescimento seria produzido apenas pela remuneração recebida na aplicação das reservas no mercado internacional. Outro pressuposto é que o Tesouro Nacional compre US$ 6,355 bilhões em mercado para honrar seus compromissos externos.

Nas contas no BC, não estão contempladas eventuais compras de dólares no mercado. O BC não define previamente o quanto irá comprar - sua estratégia é intervir de acordo com as condições do mercado de câmbio.