Título: China corta tarifas de importação para conter a inflação
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Fonte: Valor Econômico, 27/12/2007, Internacional, p. A9

A China anunciou ontem uma série de medidas relativas ao comércio exterior que têm como objetivo ampliar a oferta de alguns itens no mercado interno, reduzir o superávit comercial e conter a inflação. Algumas tarifas de importação, como as de soja e algodão, serão reduzidas a partir do início do ano, enquanto tarifas de exportação, principalmente de metais, serão elevadas. O anúncio mexeu com as cotações das commodities. As medidas devem facilitar o acesso ao mercado do país e beneficiar, entre outros, os exportadores brasileiros.

A partir do dia 1º, a China vai reduzir pela metade as tarifas de importação de gasolina, diesel e combustível para aviões, para 1%, segundo comunicado veiculado ontem no site do Ministério das Finanças. A China é o segundo maior consumidor de energia do mundo. Os impostos sobre o carvão importado também serão reduzidos. O país tem ampliado a importação de combustível e este ano enfrentou uma de suas maiores crises de falta de energia quando o consumo deu um salto durante o verão (no hemisfério norte).

"Os cortes nas tarifas vão mitigar as perdas das companhias estatais petrolíferas que importam derivados de petróleo", disse Wang Jing, analista do setor da Oriental Securities. O país mantém os preços do combustível abaixo dos níveis internacionais para conter a inflação, que no mês passado atingiu seu maior patamar em uma década.

Além das alterações nas regras para importação de combustível, Pequim anunciou ainda que eliminará tarifas de importação sobre alumínio e cobre, que reduzirá os impostos sobre o cacau (de 8% para 2%) e gordura animal (de 8% para 4%) e que estenderá até março uma redução tarifária sobre a soja, iniciada em setembro.

O algodão - produto cujo maior comprador mundial é a China - também terá tarifas de importação reduzidas em 2008, o que pode estimular as compras externas da fibra e ajudar a diminuir os custos da indústria têxtil local. A tarifa mais baixa dentro de uma sistema escalonado de impostos sobre o produto (que cai à medida que preços domésticos sobem) cairá de 6% para 5%. A tarifa mais alta será mantida em 40%. O país importou 2,14 milhões de toneladas de algodão entre janeiro e novembro deste ano. Embora a China não seja um grande comprador de algodão brasileiro, a mudança poderá ter algum impacto. No caso da soja, o país é um dos grandes clientes do Brasil.

As perdas de arrecadação com esses cortes de impostos serão compensadas por uma alta de cerca de 30% na receita fiscal este ano, a maior em 20 anos. O resultado foi proporcionado pelo crescimento acelerado, pela disparada nos lucros das empresas e por um aperto na evasão.

O outro grupo de mudanças anunciado ontem inclui a criação de impostos de exportação sobre alguns produtos de aço a partir do dia 1º e a elevação de tarifas sobre outros itens com o intuito de controlar o superávit comercial e forçar a economia de consumo de energia e a redução da poluição.

Segundo o governo, serão instituídas tarifas de 10% a 15% sobre chapas de aço inoxidável e de 15% sobre chapas de aço laminados a frio. Tarifas já existentes sobre exportação de outros produtos serão elevadas. As tarifas de exportação sobre semi-acabados de aço e barras de ferro, por exemplo, subirão de 15% para 25%.

O superávit comercial do país em novembro cresceu 14,7%, chegando a US$ 26,28 bilhões, o terceiro maior recorde registrado no país, o que intensificou os pedidos do governo americano que para que Pequim valorize o yuan num ritmo mais acelerado.

O governo chinês está tentando aumentar o nível de consumo interno e reduzir sua dependência em relação às exportações e aos investimentos como motores do crescimento econômico. O país deve crescer 11,5% este ano. O superávit comercial inundou a economia chinesa de moeda, acelerou a inflação e criou bolhas nos mercados de ações e imobiliário. Já a redução dos preços dos importados poderá ajudar a conter a inflação cuja marca em novembro, 6,9%, foi o maior dos últimos 11 anos.