Título: Wagner reduz gastos sociais e enfrenta greves
Autor: Salgado , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2007, Especial, p. A12

Wagner reclama de ter recebido o Estado com R$ 260 milhões de créditos de ICMS devidos às empresas baianas: "Estamos colocando a mão onde o chapéu alcança" O primeiro ano do mandato de Jaques Wagner, governador da Bahia, deixou para trás o temor de que o Partido dos Trabalhadores (PT) não conseguisse apoio para administrar o Estado.

Hoje nada menos do que 48 deputados estão na base aliada do governo. No início do mandato, eram 27. Eles repetiram o clientelismo já bem conhecido no Estado e preferiram, mais uma vez, ficar com o governo. Por outro lado, a população que o elegeu em primeiro turno, com 53% dos votos, dá sinais de insatisfação. Wagner enfrentou uma greve de 56 dias na Educação, teve sérios problemas na Saúde e pouco investiu em Segurança Pública.

O petista preferiu focar seus esforços para mudar o modo de gerir o Estado. Criou uma mesa de negociação permanente, na qual o governo se reúne com servidores públicos para debater, entre outros temas, reajustes salariais e planos de carreira. Lançou o site "Transparência Bahia", que detalha as contas estaduais, e tem promovido fóruns para debater com a sociedade, por exemplo, políticas para Educação e Turismo na região.

Ao contrário do que se esperava de um governador de um partido de esquerda e ex-sindicalista, Wagner investiu menos em áreas sociais do que a administração anterior. Foram gastos só 16,9% do Orçamento destinados a investimentos na Segurança Pública. Na Saúde, o percentual foi de 42% e, na Educação, de 32,7%. São números inferiores aos do último ano da gestão Paulo Souto (DEM), que gastou 23% do orçado para investimentos com Segurança, 69,9% com Saúde e 77,7%, em Educação.

Wagner diz que esse foi um ano de arrumar a casa. "Estamos colocando a mão onde o chapéu alcança", afirmou ao Valor. Ele lembra que recebeu o Estado com R$ 260 milhões de créditos de ICMS devidos às empresas baianas. Já o secretário da Fazenda, Carlos Martins, conta que havia R$ 700 milhões de restos a pagar da gestão anterior. Ao mesmo tempo, Wagner implantou o "Compromisso Bahia", programa de redução de custos e desperdícios, o que inclui revisão de contratos e novas licitações para barateá-los. A meta é economizar R$ 480 milhões em quatro anos. Em 2007, a economia foi de R$ 100 milhões.

"Ainda estamos aprendendo a ser governo", conta José das Virgens (PT), deputado estadual que é o líder da maioria, ou seja, da base aliada, na Assembléia Legislativa. Segundo o parlamentar, o governo "não foi bem na parte que diz respeito aos investimentos." Ele explica que isso acontece porque o dinheiro está sendo aplicado com "mais responsabilidade", o que faz com que exista "maior lentidão na execução de novos projetos."

Apesar do menor investimento em Educação, Saúde e Segurança, o governo colecionou bons resultados no campo econômico. O PIB deverá crescer 4,5% em 2007, acima dos 4% do ano passado. A maior ajuda para esse resultado vem da agropecuária, que deve avançar 4,8% contra 3,2% do ano passado. A indústria, porém, decepciona. Sua produção cresceu apenas 1,3% até outubro, o segundo pior resultado dos 13 Estados pesquisados pelo IBGE.

Por conta desses resultados na indústria, o governo fala em reduzir a alíquota do ICMS de 17% para 11% para alguns setores de produção de forma a estimular novos investimentos. O fim da CPMF, porém, pode jogar um balde de água fria nessas intenções. O secretário de Planejamento do Estado, Ronald Lobato, acredita que a Bahia poderá perder parte dos R$ 8 bilhões que deveria receber no governo federal nos próximos anos. Segundo ele, caso isso ocorra, obras de infra-estrutura e programas sociais do Estado podem ser comprometidas. Na avaliação do governador, "a disputa política superou o bom senso".

Apesar dos percalços nas áreas sociais, o deputado Waldenor Pereira (PT), líder do governo, acredita que Wagner tenha sido exitoso no desafio de eliminar práticas "autoritárias e coronelistas." Ao mesmo tempo, ele explica que o partido quer descentralizar o desenvolvimento econômico para equalizar a distribuição de renda. "Isso leva tempo, não será feito do dia para a noite", diz.

É por isso que os programas do governo ainda não foram capazes de causar impactos positivos na população baiana, acredita Pereira. O "Água para Todos", que tem como meta levar água para mais de 1,25 milhões de pessoas, foi lançado no final de agosto e ainda não foi posto em prática. A construção de cisternas e de poços artesianos terá início no próximo ano. O "Todos pela Alfabetização", outra bandeira de campanha, caminhou mais rapidamente. Vai alfabetizar 210 mil baianos até abril de 2008. É o dobro da meta estabelecida pelo governo para o primeiro ano. A Bahia, no entanto, é a campeã em analfabetismo no Brasil, com cerca de 2 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever.

Em uma pesquisa de opinião do instituto Datafolha, divulgada na semana passada, Jaques Wagner obteve nota seis e ficou em oitavo lugar, entre dez governadores avaliados. "Nosso governo é de mudança. É natural que seja mal avaliado no primeiro ano. Ele rompe com paradigmas e leva tempo para a população absorver isso", diz Waldenor Pereira.

O acidente no estádio da Fonte Nova também contribuiu para o aumento da rejeição a Wagner. Em outubro, num programa de rádio, o governador afirmara que havia investido R$ 3,5 milhões no estádio e que só faltavam reparos nos vestiários e na tribuna de honra. Dissera ter certeza de que o local estava preparado para receber uma eliminatória. Um mês e meio depois, parte da Fonte Nova desabou e sete pessoas morreram.

A explicação da oposição para a insatisfação com administração petista é outra. Para o deputado Heraldo Rocha (DEM), Wagner não tinha um programa de governo. Além disso, aparelhou os cargos com "aliados nem sempre competentes, para conseguir aumentar sua base de apoio", diz.

No campo político, a dúvida que fica para o próximo ano é sobre quem Wagner apoiará na disputa pela prefeitura de Salvador. O mais provável seria o atual prefeito, João Henrique, do PMDB, partido do ministro Geddel Vieira, base de apoio aos petistas no governo estadual. A má avaliação da prefeitura de João Henrique, contudo, pode fazer o PT mudar de idéia e partir para a candidatura própria. Isso não agradaria o PMDB e poderia comprometer a governabilidade conquistada em 2007.