Título: PE tem obras, mas patina na segurança
Autor: Mandl , Carolina
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2007, Especial, p. A12

Mal tomou posse, Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, já tinha em janeiro um vultuoso empreendimento para anunciar no Estado: um estaleiro. Não tardou muito e logo chegaram uma refinaria da Petrobras, unidades da Sadia e da Perdigão e até mesmo uma fábrica de vacinas da Novartis.

Ao longo do primeiro ano de mandato, chegaram a Pernambuco nada menos do que R$ 20 bilhões em investimentos privados, o que deve gerar 16 mil empregos diretos no Estado. Boa parte disso, ataca a oposição, é fruto de negociações iniciadas na gestão anterior, de Jarbas Vasconcelos (PMDB), como o próprio estaleiro.

Outro quinhão, entretanto, deve-se a uma azeitada relação que o governador vem construindo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Esse é um dos principais pilares de sustentação do governo pernambucano. É inegável que a vinda de novos projetos ao Estado vem afetando positivamente a auto-estima do povo e se refletindo na popularidade do governador", afirma Pedro Eurico (PSDB), deputado estadual líder da oposição.

Só de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Pernambuco abocanhou R$ 20,2 bilhões. Resta agora a dúvida se tamanha sintonia entre governo estadual e federal irá continuar a financiar obras em Pernambuco depois da derrubada da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

O secretário de Planejamento e Gestão de Pernambuco, Geraldo Júlio, está confiante de que os investimentos do PAC permanecem garantidos mesmo com o fim do imposto. "Não podemos deixar de receber e o governo não deixará de nos enviar recursos do PAC e também do Sistema Único de Saúde", avalia Júlio. Para ele, o que o Estado deve perder são outras verbas de apoio, que viriam tanto para Pernambuco quanto para seus municípios.

São os recursos do PAC que vão financiar uma das grandes promessas de campanha de Campos: universalizar o acesso à água no Estado em oito anos e ao esgoto em 12 anos. É uma versão de Campos para o "Luz para Todos" de seu avó, Miguel Arraes.

Para isso, dos R$ 7,6 bilhões necessários, Pernambuco conta que R$ 1,4 bilhão virá do PAC e outro R$ 1,5 bilhão do Ministério da Integração. Uma das principais obras irá começar em janeiro. É o projeto Pirapama, que vai abastecer com água cerca de 3,5 milhões de pessoas da região metropolitana do Recife.

Com um Estado repleto de obras e promessas de emprego, o calcanhar de Aquiles do governador Campos está em outra área: a segurança pública. Em maio, o governo lançou o Pacto pela Vida, um plano orçado em R$ 1,6 bilhão e que tem como principal meta reduzir a taxa de mortalidade de um Estado recordista em homicídios. Segundo dados do Ministério da Justiça, Pernambuco lidera o ranking de crimes violentos letais intencionais, com uma taxa de 48 mortes por 100 mil habitantes.

O maior alvo do Pacto pela Vida, alardeado pelo governador no lançamento do plano, é reduzir a taxa de mortalidade em 12% ao ano, começando-se a contar a partir do lançamento do plano, em maio de 2007. Nos primeiros seis meses, o que se alcançou foi uma diminuição de 4,83%.

Entretanto, José Luiz Ratton, assessor especial do governo para segurança pública e responsável pela coordenação do Pacto, acredita que isso não significa o não cumprimento da meta. Isso porque entre setembro e os primeiros 14 dias de dezembro, a redução foi de 12,06%.

"Mas, se não alcançarmos, é preciso pensar que é a implantação de um novo paradigma no Estado. Não havia nenhuma meta até agora. É importante que ela exista para guiar a atuação dos gestores", explica ele. Como uma das principais vitórias do programa até o momento, Ratton contabiliza o desmantelamento dos grupos de extermínio: foram 15, num total de 211 pessoas presas.

Porém o fato de o programa de segurança pública ainda não ter alcançado suas metas tem gerado críticas ao governo. "Até agora, o Pacto pela Vida não passou de uma bela carta de intenções. Comemorar a redução dos homicídios em apenas um trimestre é uma falácia porque os dados históricos mostram que os números de homicídios oscilam no Brasil", diz o opositor Eurico.

Na Assembléia Legislativa, Campos não sofreu neste ano nenhuma derrota. Dos 49 deputados, só seis fazem oposição ao governador.

Mas tanto opositores quanto aliados afirmam que o maior trunfo de Campos até agora tem sido dar continuidade à política de desenvolvimento econômico do Estado. Isso porque havia um receio no início de governo que Campos fosse fazer como Jarbas e Arraes faziam ao se alternarem no poder: a cada novo governo, lançavam-se novas prioridades, dando descontinuidade àquilo que o antecessor tinha feito.

A ação de Campos que até agora mais lembrou seu avô, entretanto, foi apenas o Chapéu de Palha, um programa de assistência ao cortador de cana-de-açúcar no período de entressafra. Reeditado com uma cara menos assistencialista, a nova versão atendeu 20 mil trabalhadores rurais neste ano, com investimentos de R$ 20 milhões.