Título: Competição ajuda a reduzir juro
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2007, Finanças, p. C1

As taxas médias cobradas nos empréstimos a pessoas físicas e empresas caiu, em novembro, de 35,4% para 34,7% ao ano, contrariando a expectativa de analistas econômicos, que esperavam que o fim dos cortes na taxa básica de juros interrompesse a tendência de queda nos juros bancários. Na avaliação do Banco Central, esse movimento já reflete um ambiente de maior competição entre os bancos, que forçará a queda das margens brutas.

Dados parciais de dezembro, que incluem operações de crédito fechadas até o dia 12, mostram continuidade da tendência. A taxa média recuou ainda mais, passando de 34,7% para 34,1% ao ano. "Os bancos tiveram ganhos de escala com o aumento do volume de crédito e, num ambiente de maior competição, estão repassando esses ganhos para os clientes", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Em agosto, quando o mercado financeiro começou a contar com uma interrupção nos cortes dos juros básicos, alguns analistas econômicos chegaram a apostar numa interrupção na tendência de redução dos juros bancários. A avaliação corrente era que, com a alta do custo de captação, que em quatro meses subiu de 10,8% para 11,2%, os bancos teriam margem menor para baixar os juros dos empréstimos.

Os números divulgados ontem pelo BC mostram que, na verdade, os bancos não só estão arcando com os custos mais altos de captação como também estão cortando margens de lucro. Em quatro meses, o "spread" médio das operações de crédito caiu 1,2 ponto percentual, passando de 24,7 para 23,5 pontos percentuais.

Lopes disse que a tendência de redução dos spreads não chega a ser nova - vem desde 2005. Como houve um movimento importante de redução da taxa básica de juros no mesmo período, parte dos analistas atribuiu a queda dos juros bancários apenas ao relaxamento da política monetária. Desde agosto de 2005, um mês antes de o BC começar a baixar juros, até novembro passado, os custos de captação dos bancos caíram 7,7 pontos percentuais. Mas os juros para os tomadores finais de crédito encolheram 12,7 pontos percentuais no período, graças a um corte de 5 pontos percentuais no spread.

Uma boa parte da redução nos spreads médios se deve á migração do crédito para linhas com juros mais baixos. Os clientes bancários passaram a usar com menor freqüência o cheque especial e contraíram mais dívidas em linhas como o crédito consignado e os financiamentos para a aquisição de veículos.

Mas os bancos também estão cortando as margens em cada linha de crédito, individualmente. Nos últimos quatro meses, a taxa média de juros do crédito consignado caiu de 30,9% para 29%. "Há espaço para quedas adicionais de juros até mesmo no crédito consignado, que cobra juros mais baixos", disse Lopes. No mesmo período, os spreads médios dos financiamentos de veículos caíram de 18 para 16,7 pontos percentuais.

Lopes atribui a queda dos spreads a um ambiente de maior competição entre os bancos. "Medidas tomadas ao longo dos últimos anos, como a portabilidade do crédito, começam a fazer efeito", afirma.

A queda nos juros bancários foi mais intensa nas operações para pessoas físicas, cujas taxas médias recuaram de 45,8% para 44,8%, atingindo o menor percentual na atual série estatística do BC, que começa em 1994. No caso das operações a pessoas jurídicas, o recuo foi apenas simbólico, passando de 23,4% para 23,3%. Nos dados parciais de dezembro, segue a tendência de forte queda nas taxas a pessoas físicas (de 44,8% para 44,1%) e recuo moderado nas operações com empresas (23,3% para 23%). "A tendência é que, daqui por diante, se observem quedas mais intensas nas taxas a famílias, que são mais elevadas, e mais moderadas nas taxas a empresas, que já são mais baixa", disse Lopes.