Título: Bancos médios ampliam participação no crédito
Autor: Christina Carvalho , Maria
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2007, Finanças, p. C10

A forte atuação no mercado de crédito garantiu um espaço importante dos bancos médios no setor bancário. Os bancos médios, segundo a Austin Rating, "estão sabendo aproveitar muito bem a onda que se formou no País a partir de 2004, contabilizando significativas taxas de crescimento no lucro líquido, carteira de crédito, entre outros indicadores".

O lucro líquido dos bancos médios cresceu 82,8% nos primeiros nove meses de 2007 em comparação contra o mesmo período de 2006, enquanto o dos bancos grandes registrou crescimento de 53,9%, apurou a Austin Ratings. O estudo divulgado ontem levou em conta os balanços do BicBanco, Panamericano, ABC Brasil, Daycoval, Pine, Cruzeiro do Sul, Sofisa, Indusval, Paraná Banco e Bonsucesso para construir o grupo dos bancos médios; e os resultados do Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, ABN Amro, Unibanco e Santander Banespa para o grupo dos grandes.

Segundo a consultoria, isso é resultado da forte expansão das carteiras dos bancos médios, de 75,5% nos nove primeiros meses deste ano, frente a igual período de 2006, em comparação com apenas 28,3% nos grandes bancos. Com isso, a receita de crédito saltou 54,9% nos bancos médios e apenas 9,3% nas grandes instituições.

A forte expansão do crédito nos bancos médios é conseqüência e resultado do processo de abertura de capital e lançamento de ações que contagiou várias instituições. Da amostra de bancos médios analisada pela Austin, emitiram ações neste ano todos, com exceção do Bonsucesso, cuja emissão está em processo de aprovação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Além dele, também preparam suas emissões outros dois bancos médios - o Industrial do Brasil e o Fibra.

No grupo analisado pela Austin, que inclui o Bonsucesso que ainda não fez seu IPO, o lançamento de ações no mercado primário garantiu uma expansão de 169,7% do patrimônio líquido neste ano até setembro, em comparação com igual período de 2006. Já o patrimônio dos grandes bancos cresceu apenas 26,6%.

Os nove bancos médios que até agora abriram o capital e emitiram ações captaram R$ 4,823 bilhões, de acordo com levantamento feito pelo Valor. Nesse grupo, o crédito cresceu 43,87% apenas entre março, antes das emissões, e setembro passado, ou quase R$ 6 bilhões.

Já um grupo de sete bancos médios que inclui três que estão preparando emissão de ações - Bonsucesso, Fibra e Industrial do Brasil - e quatro que ainda não tomaram essa decisão - BBM, BMG, BMB e Schahin - registrou um aumento de 26,36% do crédito entre março e setembro, em linha com a média do mercado.

Para a analista da agência de rating Standard & Poor´s (S&P), Tamara Berenholc, que estudou o assunto no início do segundo semestre, esses dados não surpreendem. Tamara afirma que o objetivo dos bancos médios ao emitir ações era, desde o início, reforçar o caixa e alavancar as operações de crédito. Ela calculou que os bancos que emitiram ações podem ampliar em oito vezes as operações de crédito, levando em conta as exigências de capital mínimo do Banco Central. Isso significaria um aumento de quase R$ 40 bilhões na carteira dos nove bancos. Diante da expansão já realizada no terceiro trimestre, a alavancagem pode ainda crescer sete vezes.

Segundo Tâmara, a injeção de capital permitirá manter o ritmo de crescimento de 40% ao ano das carteiras por quatro a cinco anos, levando em conta também o crédito cedido a outras instituições financeiras ou fundo de investimento em direitos creditórios (FIDCs).

Há bancos mais ousados que falam em alavancar as operações de crédito no valor equivalente a até nove vezes o novo capital. Outros mais conservadores preferem trabalhar com uma menor alavancagem. O Daycoval, por exemplo, fala em alavancar o crédito em até quatro vezes o capital, segundo o diretor Morris Dayan, até porque, lembrou, o BC vai apertar as exigências de capitalização dos bancos adequando-se às novas exigências do Banco para Compensações Internacionais (BIS), chamada de Basiléia 2, que introduziu novos requisitos de capital.

Para o diretor vice-presidente e diretor de relações com investidores do Banco ABC Brasil, Sérgio Lulia Jacob, os bancos têm condições de alavancar o crédito desde que o aumento de capital garanta maior acesso a funding. Segundo ele, as empresas também gostam dessa situação porque estão se sentindo vulneráveis, na dependência de um punhado de bancos que reduzem os limites quando se fundem.

Jacob estima que os dez maiores bancos têm 74% do mercado de crédito; e os bancos médios que fizeram IPO dominam 5% a 6%.

Com cerca de 25% do capital nas mãos do Arab Banking Corporation, um dos maiores do mundo árabe, o ABC Brasil sempre teve acesso fácil a funding.

Organismos multilaterais como a International Finance Corporation (IFC) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) têm garantido funding a bancos médios especializados no crédito a empresas de médio porte.

A expansão do crédito obrigou os bancos médios a elevarem as despesas com provisões, que subiram 28% em relação a 2006, segundo a Austin, enquanto nos grandes a conta diminuiu 2,6%. Despesas aumentadas e patrimônio maior influem na rentabilidade: o retorno dos bancos médios ficou em 12,6% contra 26,2% nos grandes, nos nove primeiros meses do ano.