Título: BC vê mais riscos para a inflação em 2008
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2007, Brasil, p. A4

Mário Mesquita, diretor do BC: "Uma surpresa inflacionária nos últimos meses, ligada à inflação de alimentos" A projeção oficial de inflação do Banco Central para 2008 piorou ligeiramente, passando de 4,2% para 4,3%, o que torna ainda mais improvável a retomada dos cortes na taxa básica de juros, hoje em 11,25% ao ano. Na ótica do BC, pioraram os riscos de a inflação subir além do esperado, o que aumenta as chances de um reaperto na política monetária.

As projeções do relatório de inflação do BC mostram um quadro sob controle. A inflação, que fechou 2006 em 3,14%, subiria para 4,3% neste ano e se manteria estável nos dois anos seguintes. Ficaria em 4,3% em 2008 e em 4,2% em 2009. Em tese, haveria até espaço para cortes moderados nos juros, já que os índices de inflação projetados pelo BC estão abaixo das metas anuais, fixadas em 4,5%.

"Do ponto de vista quantitativo, o cenário é tranqüilo", afirma o economista Alexandre Maia, da Gap Asset Management. "Mas, do ponto de vista qualitativo, o quadro inflacionário ficou menos favorável, por isso não está descartada uma alta nas taxas de juros."

Os riscos inflacionários se dividem em dois grandes grupos: externos, incluindo uma recessão nos EUA e uma alta mais forte dos preços do petróleo, e os internos, ligados ao forte aquecimento da economia. "Aconteceu uma surpresa inflacionária nos últimos meses, em parte ligada à inflação de alimentos, e o ambiente de demanda aquecida contribui para que essa inflação seja repassada a outros preços", explicou o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita. "O BC trabalha para evitar que isso ocorra."

As projeções do relatório de inflação foram feitas com base nas informações disponíveis no início do mês, às vésperas da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, quando o mercado ainda apostava em cortes de juros. A projeção mediana era que os juros, hoje em 11,25%, terminassem 2008 em 10,25% e caíssem para 9,5% em fins de 2009. As simulações mostram que, nessa hipótese, a inflação seguiria tendência de alta, chegando a 4,7% em 2009, superando a meta de 4,5%.

Nas últimas semanas, após diversos indicadores mostrarem a aceleração da inflação e o Copom divulgar uma ata com termos mais duros, afirmando que o BC agiria de forma tempestiva para evitar a aceleração da inflação, o mercado começou a virar. Muitos analistas passaram a apostar em alta na taxa básica, talvez mesmo em janeiro.

"Parte do mercado esperava que o BC desse uma indicação mais clara de alta de juros no relatório, como uma projeção de inflação muito elevada", afirma o economista Caio Megale, da Mauá Investimentos. "Como não há nenhum recado claro, fica praticamente descartada uma alta de juros em janeiro. O provável é que o BC monitore a inflação no primeiro trimestre."

No relatório, o BC mostra um quadro geral benigno. "A despeito da aceleração da inflação em 2007, o Copom avalia que o comportamento dos núcleos dos índices de preços ao consumidor, aliado ao fato de as expectativas estarem ancoradas, sinaliza que a dinâmica inflacionária tende a continuar consistente com a trajetória das metas." A inflação medida pelo IPCA, assinala o relatório, subiu de 2,96% para 4,19% nos 12 meses encerrados, respectivamente, em março e novembro. "Esses desenvolvimentos, pelo menos em parte, não constituem surpresa, conforme registrado em relatórios anteriores, que antecipavam que a inflação acumulada em 12 meses iria se acelerar ao longo desse ano."

Os núcleos de inflação, diz o relatório, registraram aceleração, mas permanecem dentro da trajetória de metas, entre 3,16% e 3,62%. As expectativas para 2008, diz o BC mais adiante, também estão abaixo da metas, fixadas em 4,5%. "Embora manifestem bastante sensibilidade à ocorrência de surpresas inflacionárias no curto prazo, as expectativas de inflação ainda se encontram ancoradas."

O relatório alerta, de outro lado, que aumentaram os riscos de as coisas não saírem bem como o esperado. "A robustez da demanda doméstica tem exercido pressão sobre a capacidade de oferta de todos os setores da economia, especialmente os não expostos à demanda externa." Para o BC, embora os investimentos e as importações sejam importantes para mitigar pressões inflacionárias, não têm sido capazes de eliminá-las.

O BC adota como hipótese em sua projeção de inflação que a economia americana tenha desaceleração suave. Mas, no relatório, alerta que cresceram os riscos de recessão. Até agora, o BC também acreditava que uma forte desaceleração dos EUA teria impactos limitados sobre países em desenvolvimento - essa tese, diz o relatório, seria colocada sob teste.

O BC diz que uma desaceleração mundial mais intensa teria repercussões ambíguas no Brasil. "De um lado, ao reduzir as exportações liquidas, atuaria como um fator de contenção da demanda", afirma o relatório. "O potencial arrefecimento dos preços de commodities importantes poderia contribuir para uma menor inflação doméstica." Por outro lado, diz o relatório, poderia levar a uma depreciação do câmbio, seja pela redução do fluxo de capitais estrangeiros ao país ou pela queda das exportações brasileiras.