Título: A economia promete bom desempenho em 2008
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2007, Opinião, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prevê um ano novo muito melhor que 2007. Provavelmente não será, mas basta que seja igual para que haja bons motivos de comemoração. Pelo ímpeto acumulado, a economia brasileira atravessará o ano em boa velocidade, ainda que os humores do mercado internacional continuem negativos e possam piorar. O efeito inercial contribui para que as atividades produtivas permaneçam com um bom pique. As projeções do mercado apontam crescimento do PIB em torno de 4,5%, uma pequena redução diante dos 5,3% com que 2007 possivelmente terminou. Mas as projeções sobre o comportamento do PIB são, tradicionalmente, as que o mercado mais erra - com freqüência, para menos.

A performance da economia é notável, o que tende a criar a desconfiança de que não possa ser repetida, dado o padrão de aceleração e desaceleração recorrente nas últimas décadas. Há uma fileira de números positivos raras vezes vista e que não deve ser desalinhada de imediato, salvo no caso de uma improvável hecatombe externa.

1) Ao contrário dos ciclos de expansão anteriores, as taxas de investimento estão correndo a uma velocidade pelo menos duas vezes maior que a da economia. Não apenas a produção de máquinas e equipamentos tem aumentado em torno de 20% como também a importação de bens de capital é recorde. Não há garantias de que a defasagem entre forte consumo interno e ampliação da capacidade produtiva seja preenchida, mas poucas vezes nos últimos anos esta possibilidade esteve tão próxima de ser verdadeira. A evolução surpreendente dos investimentos é um dos pontos que permite otimismo em relação à superação do "vôo da galinha", pelo menos no ano que vem.

2) 2007 foi um dos melhores anos para o mercado de trabalho. As estatísticas do IBGE de novembro mostraram que a taxa de desemprego foi a menor desde 2002 - 8,2%. Há um salto qualitativo, ainda longe do ideal, mas efetivo de qualquer forma. De novembro de 2006 a novembro passado, o emprego formal cresceu 8,2%. No ano até novembro, o total da população com carteira assinada pulou de 40,5% para 43,4%.

3) O avanço do emprego foi concomitante com o aumento da renda, de 2,4% em novembro e de 3,3% nos onze meses de 2007.

4) Com a oferta de empregos correndo à frente da demanda, gargalos já perceptíveis na disponibilidade de mão-de-obra especializada e crescimento da renda, o índice de confiança do consumidor medido pela FGV fechou 2007 em seu ponto mais alto. O indicador sinaliza que há uma tendência clara de avanço do consumo, reforçada pelo excelente comportamento do varejo no fim do ano.

5) Essa confiança, baseada na evolução do emprego e da renda, foi e continuará sendo suprida por oferta relevante do crédito, que cresceu 24% até novembro e deve se expandir outros 20% em 2008. O temor de inadimplência não se concretizou. A taxa de calote está estacionada, dentro dos padrões históricos, em torno de 7%.

6) A angústia inicial do governo com o fim da CPMF está desaparecendo e a arrecadação federal é um dos motivos que contribuem para isso. Até novembro, ela cresceu 11% reais, com um avanço de R$ 54,1 bilhões. Seja por que motivo for, o superávit primário público está ainda acima dos 3,8% e há a promessa do presidente de que ele não será diminuído para compensar eventuais perdas com a CPMF.

Restam como ameaças a crise das hipotecas lá fora e uma possibilidade de aumento da inflação interna. Até agora, porém, têm sido os alimentos que puxaram os índices, com previsões de maior participação em 2008 dos preços administrados e de alguns serviços. Ainda assim, mesmo as piores projeções para 2008 não ultrapassam 4,7%, pouco acima da meta de inflação de 4,5%. Por enquanto, segundo o boletim Focus, a expectativa mais relevante é ainda a de uma queda modesta nos juros até o fim de 2008, e não de elevação no custo do dinheiro. Um excesso de cautela do Banco Central pode levá-lo a puxar um pouco os juros para cima, mas nada que faça uma diferença relevante diante do bom ritmo de crescimento. O cenário externo pode desandar apenas se houver recessão nos EUA, o que parece, pelos últimos números do consumo no país, pouco provável.