Título: Mercado maior não salva aéreas do prejuízo
Autor: Campassi , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2007, Empresas, p. B2

A maioria das companhias aéreas brasileiras teve prejuízos no ano de 2006, quando o mercado de aviação doméstica cresceu 12%. Excluídos os lucros da TAM e da Gol, que são as maiores do setor, as outras empresas registraram perdas totais de R$ 293 milhões. Os números fazem parte do anuário preliminar de dados econômicos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que só foi divulgado na semana passada, após cinco meses de atraso. A agência ainda não divulgou informações financeiras do ano de 2007.

De 25 companhias analisadas, 14 tiveram prejuízo em 2006. Oito registraram lucro e três - BRA, Meta e Puma Air - não enviaram seus balanços à Anac. O pior resultado foi o da VRG, empresa que herdou parte das operações da Varig e em 2006 foi comprada pela Volo, cujos acionistas são o fundo MatlinPatterson e três sócios brasileiros. A companhia teve perdas de R$ 122,4 milhões desde que foi criada, em julho, até dezembro de 2006. A OceanAir e a VarigLog também tiveram prejuízos significativos, de R$ 87,1 milhões e R$ 60,7 milhões, respectivamente. A VarigLog também pertence à Volo.

A Gol e a TAM, por sua vez, tiveram os maiores lucros - R$ 502 milhões e R$ 475 milhões, respectivamente. Juntas, em 2006, elas detinham 82% do transporte aéreo de passageiros dentro do Brasil (sem cargas). Os lucros e receitas não são exatamente iguais aos que as duas empresas divulgaram em seus balanços. Segundo a Anac, isto acontece porque a agência considera apenas os valores relativos estritamente às atividades da companhia aérea.

Como um todo, as 25 empresas registraram lucro de R$ 684 milhões. Em 2005, elas haviam tido prejuízo total de R$ 1,02 bilhão, mas o número foi distorcido pela Varig, que havia perdido R$ 1,47 bilhão somente naquele ano.

Já a receita das companhias aéreas em 2006 chegou a 13,2 bilhões. O valor é 24% maior do que o registrado em 2005, quando a mesma base de empresas é levada em conta. Sem a Gol e a TAM, a receita do setor despenca para R$ 2,27 bilhões.

A conta da receita exclui a BRA e a própria Varig, cujos demonstrativos de resultado estão disponíveis no anuário de 2005 mas não no de 2006. Segundo a Anac, as duas empresas não enviaram dados consistentes. "É importante entender que os resultados são preliminares", afirma Clarice Bertoni, responsável pela elaboração do anuário. "Mas não há nenhuma previsão de quando ele estará completo, porque está difícil conseguir os dados com essas empresas."

A Anac é obrigada a fiscalizar as finanças das companhias. No setor aéreo, porém, afirma-se que essa fiscalização não existe. A prova disso talvez seja o fato de que a BRA abandonou suas operações de um dia para o outro em outubro de 2007 alegando estar em crise financeira. Hoje a empresa está em recuperação judicial.

No quesito patrimônio líquido, 18 companhias registraram um valor positivo. Já as empresas VarigLog, OceanAir, WebJet e Team apresentaram patrimônio líquido negativo, o que significa que elas tinham mais passivos do que ativos em 2006. Não há dados sobre a situação da BRA, da Meta e da Puma.

A Anac, antes de ter sua diretoria totalmente modificada nos últimos meses de 2007, vinha estudando novos critérios financeiros para outorgar direitos de rotas às companhias aéreas. Um dos indicadores que poderia ser exigido é justamente o patrimônio líquido. A agência, porém, não confirma se o assunto continua sendo analisado.