Título: Canadenses tentam acelerar exploração de vanádio na Bahia
Autor: Salgado , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2007, Empresas, p. B8

Menchen, gerente-geral no Brasil, tem reunião no início de janeiro para discutir a liberação da licença ambiental A Bahia, mais precisamente a cidade de Maracás, a 367 quilômetros a oeste de Salvador, tem os depósitos de ferro-vanádio com o maior teor de vanádio do mundo, 1,44%. O município e a empresa que irá explorar as minas, porém, não têm se beneficiado desse produto. Desde abril de 2005, a Vanádio Maracás, empresa do grupo canadense Largo Resources, aguarda a licença de instalação, primeira fase da licença ambiental que permitirá o início da exploração.

O projeto deverá consumir entre US$ 120 milhões e US$ 130 milhões, como conta Kurt Menchen, gerente-geral da Largo Mineração, subsidiária brasileira do grupo do Canadá. O maior investimento será na usina de beneficiamento, por onde passará todo o minério lavrado. A estimativa é que 450 empregos diretos sejam gerados, o que não é pouco para Maracás, cidade com cerca de 32 mil habitantes. O governo do Estado, por meio da Companhia Baiana de Pesquisa e Mineração (CBPM) ficará com R$ 29,7 milhões de royalties anuais, além de deter cotas de participação na Vanádio Maracás.

O início da exploração também deverá fazer com que uma estrada local seja asfaltada. O acesso à cidade é feito pela BR 116 e pela BA 026. Há um trecho que fica a 20 quilômetros da mina cuja pavimentação está sendo negociada pela Largo com o governo. Por essas vias irão passar mais de 400 toneladas de ferro-vanádio por mês, o que poderá ser feito com 150 viagens de caminhão. A expectativa é que sejam produzidas, anualmente, cerca de 5 mil toneladas da liga derivada do vanádio. Hoje, o Brasil consome 1,2 mil toneladas. O restante será exportado para China, Estados Unidos e países da Europa, pelo porto de Salvador.

Relatório concluído há duas semanas mostrou que a mina de Maracás, descoberta nos anos 80, avaliada em 17,3 milhões de toneladas e nunca explorada, é mais rica do que se imaginava. Seu teor de vanádio é de 1,44%, bem acima do maior teor já descoberto, de 0,44%, em minas na África do Sul. Quando o depósito for explorado, será a única mina de vanádio do país. A liga produzida pela unidade de metalurgia será composta por 80% de vanádio e o restante de ferro.

Também foi detectada nos depósitos a presença de platina e paládio. A empresa não quer, agora, dar ênfase a esses minérios, mas uma fonte ouvida pelo Valor afirma que a exploração desses metais trará mais lucros do que a de vanádio. "Precisamos fazer mais estudos para saber o teor da platina e do paládio existente na mina, além de sua distribuição e geologia", conta Menchen. Ele diz que em 2008 estará focado nessas pesquisas. Segundo o executivo, o que se sabe, por ora, é que a quantidade existente desses metais é atrativa para a exploração . "O foco é o vanádio. A platina e o paládio, se extraídos, serão um bônus."

Só o ferro-vanádio já dará uma receita bruta à companhia da ordem de R$ 324 milhões. A cotação atual do quilo do minério no mercado internacional é de US$ 36. "O preço do vanádio tem subido muito nos últimos anos. E a perspectiva é de, no mínimo, se mantenha esses patamares elevados", explica o executivo.

Segundo Menchen, até o final do primeiro semestre de 2008, a empresa espera ter a licença ambiental, além de concluir o projeto de engenharia e de captação de recursos para financiar a obra. A partir daí, terá início a construção da unidade de processamento do vanádio, que ficará pronta em 18 meses. Se tudo correr como o programado, em 2010 começa a produção da liga de ferro. Esse material é muito leve e resistente à abrasão e à corrosão. Por isso, é utilizado na aviação, em tubulações de gás e óleo e em ferrovias.

O cronograma, contudo, poderá ser atrasado caso a licença ambiental não saia logo. No início dos anos 90, houve uma tentativa de exploração desses depósitos. O processo demorou e os preços do minério desabaram no mercado internacional. Com isso, o projeto foi engavetado.

Hoje, a Vanádio Maracás espera resposta do CRA, órgão subordinado à secretaria de Meio Ambiente do Estado, sobre os últimos estudos de impacto ambiental apresentados em março deste ano. Um versa sobre os efeitos na flora, outro sobre o meio aquático e um terceiro trata da arqueologia do local. Está agendada uma nova reunião entre a empresa e o CRA para o dia 4 de janeiro.

Paulo Fontana, presidente da CBPM, diz que o governo está disposto a colaborar para acelerar o licenciamento. "Já pedi ajuda ao secretário de indústria e ao governador. Se houver muito atraso, o governador reforçará a importância do projeto. Temos força para fazer com que o projeto tenha início logo", enfatiza.